quinta-feira, maio 31

Água doce

Afundara. E agora encontrava-se submerso num lago de pensamentos confusos; contraditórios com seus atos e com  reflexo de seus desejos. Envolto pela roupagem do compromissos que não sabia mais se queria para si, não pôde libertar os braços para que esses trouxessem seu corpo de volta à superfície. Queria alcançar um pedaço de qualquer coisa que o fizesse flutuar, mas sua própria consciência já estava pesada demais; cansada demais.

O lago era o dela. E tinha a mesma cor que a que lhe aparecia nos olhos. Mas ele esquecera de despir-se das roupas antes de entrar, e quando essas terminaram de se encharcar acabaram pesando no corpo. Para o peso do que trouxera, perdera a chance. Os braços não conseguiram desenrolar-se.

E os abraços permaneceram presos. Afundara.

Afundara sem ter a chance de respirar fundo, uma última vez. Uma última olhada para a luz do dia, no lado de cima da água. Seguia caindo para o fundo do lago mais doce que se dispusera a entrar quando terminou de soltar o ar que prendia, e parou a pulsação sanguínea. Afundara; e a consciência se esvaía à medida que o fundo chegava mais perto.

Mais perto.

Mais perto.


Mais



Fundo.

0 pessoa(s) disse(ram) que: