quinta-feira, novembro 13

observando...


A guria sorria no trem. Trem lotado, em plena segunda-feira, todo mundo com aquela cara de quem não vê a hora de chegar em casa, botar os pés para cima e descansar para aguentar a semana que recém começara; cara amarrada mesmo. Mas ela não; ela sorria, olhando para o nada como se visse tudo. Ela sorria, leve, encarava uma vida com naturalidade.

De onde eu estava não era possível saber se ela delirava, sonhava acordada... Se eu estivesse do lado dela, provavelmente, também não saberia. Mas o fato é que ela não dizia nada, apenas sorria e suspirava. Talvez fora promovida; talvez fora pedida em casamento; comprara um carro; mudara-se; estava com as malas feitas e se mandaria pra qualquer lugar... Talvez, simplesmente, estava de bom humor e queria extravasá-lo.

Eu a fiquei observando por todo o tempo em que estive no trem. A guria sorriu da estação Mercado até a Niterói, onde desci, e dali em diante não sei dizer o que foi feito do sorriso dela. Possivelmente continuou estampado na fronte, contemplando mentalmente o motivo que a deixara daquele jeito. Outras pessoas, então, olhavam para ela e, quem sabe, procuravam no sorriso dela um motivo para sorrir também.

Se os outros sorriam, não sei. Mas a guria sorria.