segunda-feira, março 26

Se a gente já não mais

Se a gente já não sabe mais andar pra frente
quem sabe a gente para um pouco e 
fica 
observando quem passa e quem deixa de ir. 
Se a gente já não pode mais sorrir a gente ri 
da gente, 
que tem gente que nem mais isso faz. 
E tem gente que faz demais, demais.

Se a gente já não pode mais seguir pra frente, 
a gente para, mas 
não volta. 
A gente fica observando todo mundo 
e escolhe a nossa hora. 

Não é meu dia que tá com pressa, 
não é meu sol que vai embora. 
Se minha lua não se mostra, 
eu recolho a minha estrela e deixo 
ela brilhar pra quem eu quero. 

Se a gente já não sabe mais brilhar pra quem se gosta -
daí a coisa é feia mesmo.

domingo, março 25

Nota IX - Sobre o que você deveria fazer para ser uma pessoa melhor

Eu acho tão engraçado como você sempre tem um conselho para me dar, que vai mudar a minha vida e resolver os meus problemas. Eu realmente acho fascinante isso, e ter essa habilidade parece ser coisa menos rara do que eu pensei, já que tem tanta gente cheia de sabedoria vomitando lições de vida. Eu penso que um dia talvez eu concorde com todas as coisas que você disse que seria melhor fazer, mas enquanto esse dia não chega eu pretendo continuar cometendo os meus erros e me jogando nos meus precipícios.

Mas assim, quando você tiver outro conselho maravilhoso como todos esses que você vive querendo me empurrar, não deixe de desistir de me dizer. Eu vou esperar ansiosamente pelo dia em que você não vai ter nada para me falar. Porque nesse dia, talvez, você me considere um caso perdido.


E aí eu pretendo continuar perdida mesmo.

sexta-feira, março 23

Agora são quatro

Já se foi mais um. E nenhum de nós dois percebeu. Acho que a gente meio que prefere fingir que nem faz tantos anos assim, por que nem todos os nossos lados ficaram mais bonitos com o tempo. E vê só, se foi mais um, mesmo; olha aqueles tantos ali que vão chegar. Chega a ser estranho, não acha? Se eu voltar e olhar as coisas que ficaram, me lembro do contexto de tudo, tudo. Pior quando ainda encontro perdida uma linha meio viva, meio moribunda - meio falta de sorte. Antiga, bem velhinha, mas gravada bem forte Acho que a gente, na época, preferiu tirá-la de dentro e seguir com a história, ainda que trôpegos. E vê; se passaram quatro anos.

Quatro anos. Tantas vidas que nunca foram nossas, e outras tantas das quais abdicamos.

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Hoje este blog comemora 4 anos de vida. Quatro anos de tantas coisas, de tantos contos e uns quantos tombos. Quatro anos falando mais do que eu mesma digo.
E abrindo os meus livros nas páginas mais amarelas.

Parabéns pela resistência, Inacreditável Mundo.


quarta-feira, março 21

Caso você leia

Eu queria mesmo que você soubesse que seria bom se você falasse comigo. Sabe, sem galho. Eu sei bem o que aconteceu e não me preocupo com os porquês; eu só queria saber se está tudo bem ainda. Claro que não foi como eu queria, e claro que isso me chateia. Mas eu sei que a culpa foi minha também, e que em certas situações a gente simplesmente não pensa direito quando faz as coisas.

A verdade é que eu fiz uma aposta e perdi. E por ironia eras tu quem reclamava por ter recebido a resposta que não queria. Acho que não foi uma noite boa para respostas.

A verdade é que ambos saímos perdendo.

 

domingo, março 18

Sobre gavetas

Esvaziou prateleiras, arrastou móveis pelo quarto, rearrumou gavetas e esperou pelo melhor. Não que tivesse motivos para isso, mas achou que esperar por coisas boas fosse o mais esperto a se fazer. Achou que pensar em encher-se de tralhas de novo não traduzia o que queria para si dali em diante. E ela queria mais é ter espaço para os próprios pensamentos, em algum lugar do mundo. Que fosse nas gavetas, se preciso.

Encontrou tanta coisa empoeirada que preferiu nem pensar duas vezes. Tudo pro lixo. Pra fora do quarto. Pra fora da vida inteira. Queria todo o espaço para os devaneios, para os planos infalíveis. Queria que as coisas velhas abandonassem de vez as gavetas, que tudo que não tivesse mais utilidade se fosse. Encontrou CDs velhos, bonequinhas de pano, anotações irrelevantes e muita tralha que nem sabia para o que servia. Entre tanta coisa inútil, encontrou  alguns pedaços de coração; foi quando percebeu que eram os que estavam lhe faltando. Essa foi a única coisa em velha e empoeirada da qual não se desfez. Achou melhor deixá-los guardados, até que chegasse a hora de usar um coração inteiro de novo, para alguém que merecesse tanto.

E sabe, ela tinha um bom coração. Eu não vejo a hora de vê-la usando-o inteiro mais uma vez. Quem sabe ele nem precise ser quebrado de novo.



Mas, por enquanto, uma parte ainda vai ficar na gaveta.

sábado, março 17

Da porção, da pilha e do mundo bom

Eu tinha uma porção de coisas para dizer. Coisas que a gente começa a falar e não para mais até sentir todo o peso das palavras fora da gente. Eu tinha uma porção de pequenas coisas, pequenos incômodos, pequenos detalhes, há muito tempo sendo ignorados e empilhados num canto aqui de dentro. Só que aconteceu que a pilha caiu e tá se espalhando por todos os lados; aconteceu que ficou tudo meio bagunçado, sabe? Tudo meio fora do lugar, mas não fora de mim.

Eu tinha um mundo cor de rosa na mão e, sem perceber, deixei que ele me escapasse por entre os dedos. Eu deixei meu mundo bom se perder e fiquei com a pilha desfeita da minha porção de coisinhas. Uma porção meio sombria. Meio como aquelas coisas que nunca dão certo.


Eu não me importaria se a vida resolvesse jogar no meu time, para variar.


sexta-feira, março 9

Sleeping awake

Foi tão natural quanto querer ficar na cama depois que o despertador toca. Mas era melhor, sabe? Era meio que fazer uma coisa que você não fazia, mas sabia que deveria estar fazendo há algum tempo. E confesso que foi surpresa te ver na minha cabeça, porque eu juro que não pensava em porque tu não fazia parte dos meus planos. De repente vê-lo na história toda, num dos papéis principais da peça, foi um tanto curioso. E na hora pareceu tão natural que eu só percebi a estranheza depois que tudo tinha se dissolvido.

O engraçado é que eu nunca me lembro de sonho nenhum. 



Só que esse ficou pipocando nos meus olhos o dia inteiro.

quinta-feira, março 8

Doce rotina

Desconfortavelmente ele a observava andando de um lado para o outro da casa. Sempre levantava da cama cedo para acompanhá-la no café da manhã, e depois deitava-se no sofá do corredor; com o corpo mal acomodado, olhava os sapatos de salto fazendo toc-toc pelo assoalho. Ela não tinha tempo para lhe dar atenção aquela hora, mas esforçava-se para ao menos afagar-lhe os cabelos e sorrir, amável.

Não importava que o sofá era velho e tinha montes de molas soltas, ou que o estofado já estava meio puído e lhe dava alergias: aquele, de manhã, era o melhor lugar da casa. Era o lugar de onde ele via a mulher mais linda do mundo arrumar-se antes de sair, por onde ela passava primeiro com os cabelos desalinhados para passar de volta com um penteado elegante e o melhor perfume da vida. Ele pouco se importava se era cedo demais, desconfortável demais; era o melhor momento do dia.

A cada mês o sofá parecia menor. Ela, sempre mais linda. Toda vez um torcicolo, um espirro, mas também as melhores lembranças de um tempo bom. O menino acompanhava a mãe sem perder a hora nem mesmo um dia, pois sabia que cresceria e deixaria de dar bola para coisas como aquelas. Aquelas coisas maravilhosas, como o toc-toc do sapato misturado com o cheiro de morango e roupa limpa; a vista do sofá era mais linda que qualquer pôr-do-sol. Era sol nascente. Era a mãe dele.


Ele sempre soube que era um menino de sorte.

segunda-feira, março 5

Saída

Andou pela sala como se estivesse em casa. Como se pudesse olhar a todos com aquele ar de "eu sei que você sabe que eu possa fazer isso"; como se pudesse de fato fazer tudo aquilo. Ele observou um presente que já não era mais seu, esvaziou suas gavetas e pôs-se a andar novamente, desapegando-se de cada canto que habitara por tanto tempo.

Ele andou pela sala como quem conhece cada pedaço dela melhor do que os que ainda viriam a permanecer por lá.

sábado, março 3

Nota VIII - sobre acordar (2)

E ela abriu mesmo. Aquelas portas que disseram que a vida havia aberto quando decidiu refazer seu próprio desenho. E sabe, eu não esperava; de verdade. Mas dizem que é sempre esse o modo como acontece, né? Então ela abriu mesmo.

E eu resolvi que passar pelas portas abertas seria uma boa ideia.