quinta-feira, abril 30

nas linhas virtuais

Já faz algum tempo que eu escrevi algo sobre mim mesma por aqui. Sei lá, não vejo muito sentido em ficar escrevendo coisas que acontecem comigo ou sentimentos que surgem porque nem sempre eles merecem tanta atenção. Hoje, particularmente estranha, me deu vontade de fazer isso; mas eu não sei nem como começar.

Parece que quanto mais a gente vive, menos a gente entende. ("Ah, grande novidade... pensou nisso sozinha?? maazáá...") Que seja. É óbvio e pura verdade. Não, não entre em desespero porque eu não vou começar a falar sobre isso. Na verdade, eu nem sei o que falar. Acho que passar muito tempo sozinha em casa acaba fazendo isso com as pessoas: elas descontam sua frustrante solidão verbal nas linhas virtuais que tu estás lendo. É uma fuga, eu acho.

Vamos fugir, então. ("Aham, hoje ela tá realmente cheia de frases originais! ¬¬") Eu realmente preciso disso. Solidão é uma coisa relativa e particular. Mesmo entre amigos eu me sinto acuada, sempre desconfiada e armada até os dentes. Ironias e sarcasmo às vezes constroem uma armadura bem forte. Eu me defendo, mesmo sem nem saber do que ou por quê.

Solidão é viciante. Vai dizer que nunca te deu uma vontade incontrolável de desmarcar todos os compromissos pelo simples prazer de sair sozinho, caminhar, ou simplesmente ir ou ficar em casa mesmo. É bom. Se tem vezes que a nossa cabeça já está tão cheia de coisas que não dá nem pra ouvir os próprios pensamentos tu não precisas de outra pessoa, com vários outros pensamentos pra te encher a cabeça. Encher não no sentido de incomodar, mas no sentido normal da palavra. Eu gosto de estar sozinha, apesar de ter dito, lá em cima, que estava descontando uma "frustrante solidão verbal".

Bom, acabou minha aparente vontade de descontar. E aposto que tu também já deves estar querendo me mandar calar a boca.


Amanhã é feriado. E pra mim não faz a menor diferença. Todos os meus dias têm sido feriado.

Viva o ócio.

terça-feira, abril 28

"- Vem dormir...

- Agora não. Tenho um milhão de coisas pra fazer ainda. Acho que vou ter de virar a noite.
- Deita comigo, até eu adormecer. Por favor, eu to com um pressentimento ruim, to inquieta... Vai, só um pouquinho... Juro que não te prendo comigo.
- Tá... Só um pouquinho mesmo. Não tenho tempo nem pra respirar essa noite."

Dez minutos depois ela já estava mergulhada em um sono tão profundo quanto se pode imaginar. Ele selou um beijo nos lábios rosados da menina e saiu pela janela. Do vigésimo andar.

segunda-feira, abril 27

conversa fiada

Hoje eu não ligo pro que tu fazes e nem me abalo com o que tu pensas. Eu vou sair correndo, pelado talvez, e vou ser qualquer coisa que seja o que eu quero ser. E eu vou começar sendo feliz.
Então, não me venha dizer que tu não estás bem porque hoje eu não vou te ouvir. Nem reclama da tua casa e nem amaldiçoa a tua sorte; eu não vou me importar. Eu sei dos teus problemas e das tuas dores mas hoje eu vou fingir não conhecê-las.
Não me venha dizer que eu não sou um bom amigo e que nem mesmo me importo contigo. Cansei de ver-te como uma criança frágil e decidi cuidar de mim.
Não me venha dizer que sou cruel ou egoísta porque hoje, ah hoje... Eu vou ser, e não quero nem saber.

sábado, abril 25

nem um conto sem importância.

Eu perdi a inspiração. Não sei que raios aconteceu... Só sei que perdi. Acho que ela saiu correndo pra não ser culpada por mais nenhuma história triste e sem final. Ou talvez ainda esteja por aqui, mas tão bem escondida que nem mesmo ela sabe onde.

Eu tentei escrever alguma coisa pra postar; juro que tentei. Mas não tem jeito; não consigo! Assim que a danada aparecer eu me acerto com ela, pode deixar... Mas até lá, eu fico por aqui mesmo.

Hoje não tem história, nem mesmo tem um conto sem importância.

domingo, abril 19

só uma torcedora orgulhosa e coruja

Tanta gente. Tantas esperanças. Uma multidão gritando em uníssono em busca de um único objetivo. Sorrisos incrédulos, olhos aflitos e coração acelerado até que começou a festa.
Apenas um movimento e o lugar inteiro parecia que iria desmoronar; as vozes se confundiam em meio a tantos gritos que extravasavam tamanha felicidade. Nem precisou muito tempo para ficar claro: a festa recém começara.
Um mar vermelho pulava, gritava, e gritava mais ainda quando soou o apito. Fim de jogo. Temos o campeonato.


Homenagem ao meu colorado que hoje presenteou todos os colorados, que foram ou não ao estádio, com uma maravilhosa goleada. Inter, Campeão Gaúcho 2009.

quinta-feira, abril 9

Velho amigo

Numa manhã fria de inverno um homem de cabelos brancos e com as costas curvadas caminhava pela calçada. Era muito cedo, não havia mais ninguém na rua; domingo era tradicionalmente o dia mais preguiçoso da semana. O homem de cabelos brancos admirou por um momento a vida inteira que lhe era mostrada, como um gigantesco filme onde ele era o protagosnista.

O rigoroso frio não permitiu que ele ficasse na rua por muito tempo. Naquela altura da vida a saúde já não era a mesma de quando era moço, por isso deu meia volta e entrou no galpão para acender o fogão a lenha e aquecer a água e a si próprio.

Seu grande amigo já estava lá, tomou seu lugar em torno do fogão e continuou a acompanhar com os olhos cada movimento que o velho fazia, como se estivesse pronto para acudi-lo a qualquer momento. O velho adorava a companhia dele e sempre retribuía com seus olhos pequeninos e muito azuis o olhar fraternal que ele lhe dava, como se agradecesse a preocupação que ele lhe destinava.

O velho de costas curvadas sentou-se ao lado do amigo, com a palma da mão sobre a cabeça dele como uma mistura de carinho e gratidão. Recostou-se na cadeira e sentiu-se bem. O cão, seu grande amigo, entendeu o gesto e ficou sob a mão do seu dono até que sentiu seu toque esfriar.

A chaleira chiava, o cão uivava e o velho dormia.