domingo, março 17

Argumentos

Minhas manias desbotadas já não pintam meus dias. Descolore as dores porque aqui nada fica. Nada mais para. Desfaz teus planos porque eu cheguei agora, e ainda vou tirar meus sapatos e por os pés pra cima. Te resolve e retira as ordens que tu pensaste em me dar... entende que quem sabe de mim sou eu. Pode ir indo embora, se quiseres, ou então fica - se preferes; mas não me vem com jeitos de ver a minha vida pelos olhos dos outros. Eu a enxergo pelos meus próprios, e eu não quero saber quantos setes eu pinto na opinião de quem não tem nada a ver com isso. 

Relaxa, que eu cheguei agora. Recém tirei os sapatos e agora quero tirar o resto da roupa.


Vem cá. 
Me ajuda com o zíper da saia.



sexta-feira, março 15

Notas XIX

Ela duvidou da coragem e disse que não, que jamais. Ela riu da própria covardia. Mas também riu do jeito idiota de querer usar o bom senso depois de usar algumas cervejas, e então deixou os passos serem dados pela vontade de se atrever; pelo desejo de ser do jeito que queria. Ela disse que não, mas andou na direção  oposta da opinião, e fez bem. Fez mesmo.


E foi bem feito. E divertido, sabe.

segunda-feira, março 11

Lápis-borracha

Eu não vou escrever isso aqui à caneta, não. Eu tenho medo de falar bobagem e não poder retirar o que eu disse; a caneta não me deixa fingir que eu não tenho culpa. A folha absorve a tinta; eu posso riscar por cima, mas a folha já absorveu a tinta -  é tarde demais.

Eu vou te escrever à lápis. Porque pra lápis há borracha. O lápis arranha a folha, mas é apagável; ele não me obriga a ser polida e certa. O lápis arranha a folha, mas arranhão cicatriza e sara. Lápis tem remédio.

Lápis é dizer sem querer - ainda que querendo muito. É dizer que ama e sorrir como quem está só brincando. Caneta é olhar nos olhos e dizer verdades. E quando a gente diz verdades, não tem remédio.


Lápis tem remédio.


sexta-feira, março 1

Refúgio

É estúpido. Não há muito o que se dizer sobre esse tipo de coisa, esse jeito de esperar pelos desejos acontecerem. É bobo, e meio idiota, mas me é inerente. Está em mim, nos meus dias e noites e universos paralelos - porque eu tenho vários. É estúpido, eu sei. Mas cá entre nós, me é necessário.

Eu preciso desejar coisas, e fazer apostas comigo mesma. Eu preciso olhar pra uma estrela no céu e acreditar que ela tem o poder de me dar o que eu peço. E eu preciso crer que existem maneiras de pedir essas coisas para ela, porque assim eu posso acreditar que quando eu peço e não ganho, significa que eu não queria de verdade - e a estrela sabia disso.

É estúpido. E infantil também. Mas essa estupidez toda está em mim, e por isso eu não me importo em ser tao criança nesse sentido.



Eu tenho uma estrela que realiza desejos, afinal de contas.