quinta-feira, janeiro 31

Tudo bem.

De tudo que mudou, de tudo que ela não é mais e de tudo que se tornou, a única certeza que fica é que a que volta não é a mesma que se foi. Não, não é. E sabe, talvez as pessoas não saibam lidar com isso. Com ela, e esse jeito novo de ser mais livre. Mas tudo bem, porque ela entende que há quem apenas não entenda. Ela sabe que o mundo gira mais rápido longe de casa, e foi nesse ritmo que ela andou nos últimos dias. Mais rápido. Mas vai ficar tudo bem.

De tudo que mudou, ela inteira. Do tamanho dos passos, ao tamanho dos sonhos; e da paciência. Aquela outra não volta, e talvez você não consiga mais enxergar o que um dia ela fora naquele corpo dela. Mas tudo bem. Você talvez se assuste. Você talvez não goste. E talvez ela também não saiba como lidar consigo mesma. Mas tudo bem; vai ficar tudo bem.


Quem volta não é a mesma. Quem volta tem mais de qualquer coisa que não tinha antes.
E com isso - por incrível que pareça - tudo bem.




sábado, janeiro 19

Desculpa

Sabota. Olha as fotos, olha os olhos; fecha os próprios e sente a boca. Sente aquela que sincronizou contigo os movimentos todos. Sabota. Enxerga o rosto, sente o gosto; sorri com os risos de todas aquelas fotos. Ri do riso que não é teu e lembra de sentir o cheiro leve que ficou nas roupas que tu tiraste; e te arrepende de não as ter tirado antes. Sabota.

Olha as fotos, olha os olhos.
Sabota.


Sorri pelo desejo e lamenta uma noite interminada. Te enxerga finalmente do outro lado do jogo. Do lado sujo, do lado que é julgado culpado. Te enxerga do outro lado e confessa que não dá bola. Sabota.


Sente a boca, e sabota.
Pode até ser culpada, mas pelo menos não tem o ar blasé da outra.


quarta-feira, janeiro 16

Resistência

Me faz mais leve. Me faz mais que isso. Não pede pedaços; não me tira espaço, não me pede a mão. Não me pede a forca, não me faz paixão. Eu sei  pra onde vamos - e pra onde não.


Eu sei pra onde vamos. Então me faz mais leve, me faz dona da força, me faz coração.


domingo, janeiro 13

Desfeito

Tinha um peito tão cheio que até as tentativas de forçar o alívio resultavam frustradas. Tinha força de menos. Menos vontade de tê-la - menos vontade de tê-lo. Olhavam pra ela com aqueles outros olhos e não conseguiam dizer se enxergavam a faísca que costumava acendê-la com todas as ideias que saíam de alguma certa boca. Ela tinha uma boca tão cheia de desaforos, tão cheia de desamores; tinha uma boca enojada de escolhas aleatórias de outros enjoos.


Tinha nojo da outra face. E pouco saco para sorrisos mentidos.


segunda-feira, janeiro 7

De rua

De noite, de saia, sai fora de vista. Sai fora de quadro, fora do salto, fora da vida. Da tua. Vestida de noite, de batom nos lábios, de sorte nos passos, salta fora do carro e deixa de fora uns olhos atentos. E um par de coxas despidas. Um par de pernas sem meia-calça, com intenções meio incertas, de incertezas semi-nuas.

De noite. De costas. Sai fora de vista. Vestida com os olhos de uma noite despida.


Da tua.


sábado, janeiro 5

Maneiras

Tu não precisas segurar a minha mão. Não tens de me conduzir pela cintura até os teus amigos, e dizer quem eu sou e por que os teus olhos caem em mim de vez em tanto. Tu não precisas nem mesmo admitir que teus olhos me olham. Eu não te peço público, eu não te peço palco.

Eu te peço tato, e alguns outros sentidos.

Tu não precisas contar pra ninguém, também. Não tens de me mandar recados, basta me fazer teus pedidos. Eu ainda te digo que não conto pra ela, e te ajudo. Tu não precisas temer desejos; não precisas temer deslizes. Quantas vezes já escorregaste, afinal. Nós somos amigos. A gente se ajuda.


Eu preciso que tu sejas meu amigo hoje, e me ajude com algumas coisas.