segunda-feira, novembro 28

Leaves in the river

Sabe o que é? Essa coisa que vem chegando, devagarinho, sem a gente notar. Essa sensação de que tudo pode melhorar se a gente abrir a janela pra ver o sol. Sabe o que é? Eu não sei mais o nome, do que se chama isso, mas é aquela coisa que dá na gente e parece que deixa as vibrações em harmonia.

Eu achei que você soubesse o que é, pra me ajudar a dizer. Aliás, você me ajudou a encontrar isso aqui; e obrigada por isso. Mas, sabe, acho que já tá na hora de soltar a corda do meu pescoço, e parar de me sufocar dessa forma. Sabe essa coisa que vem devagarinho, deixa tudo melhor e mostra como o pôr do Sol pode ser bonito de novo? Pois é... acho que você deveria sentir isso também. Permita-se.

Permita-me.


quinta-feira, novembro 24

Pata-cega

Será que se eu apagar a luz tudo isso vai embora? E aí eu vou poder ficar olhando pra um céu cheio de estrelas, sossegada, até meu pescoço doer. E eu também vou poder deitar no gramado ali de fora - porque a temperatura vai 'tar boa - e respirar bem fundo quando passar aquela brisa fresquinha da noite.  Se eu apagar a luz o escuro fica mais escuro e as luzinhas no céu ficam mais fortes ainda, então vai ser melhor. Porque daí eu não vou mais me preocupar com as luzes que ele acendeu pra não me deixar ver o brilho mais bonito.


Será que se eu apagar a luz da casa ele vai pensar que não tem ninguém, e ir embora?



E daí, será que tu me encontra nesse escuro?


segunda-feira, novembro 21

Nota IV

Tem vezes que eu paro e penso em quando foi que o mundo deixou de ser bom para mim. E aí eu vejo nos olhos alheios respostas que não me servem. Que não me dizem.


Tem vezes que eu só queria saber porque raios o meu mundo deixou de ser para mim.
Mas meus olhos não me dizem muita coisa boa.


 

domingo, novembro 20

Foi um tanto assim

fiz de um tudo
e tanto
que de tanto me fez tão pouco
me fiz tão pouco
em todos
que de um tudo ficou pranto

e ficou ponto
um tanto feito e pouco dito
com tudo e outros



No fim, não foi nada mesmo.

quinta-feira, novembro 17

"I've got another confession to make [...]"

Eu dancei a música que tocou e deixei que os meus passos fossem guiados pra longe. Eu abri mão do controle para dar passos maiores, desajeitados e muito mais ambiciosos do que eu admitiria em meus melhores dias. Eu menti, e fingi que não sabia pra onde andava. Estraguei tudo, e tem coisas que não podem ser reparadas. 
[tem coisas em mim
[que vieram com defeito de fábrica.

Agora me perdi de ti. Me perdi de mim. E tem coisas que a gente, depois que perde, nunca mais encontra.




[tem coisas em mim que eu nunca fui capaz de achar.

terça-feira, novembro 15

Hoje não

Hoje eu não vou te observar de longe e nem pensar no que fazer para o longe ser mais perto. Não vou esperar tu passares para sentir o teu cheiro se espalhando pelo ar em volta de mim. Eu não vou acompanhar os teus passos nem pensar nos teus atos. Os que tu fizeste comigo.

Hoje não. 

Hoje eu não vou viver para ti. Hoje as músicas não vão ser cantadas com a tua voz, na minha cabeça, e nenhuma delas vai me fazer lembrar de algum tempo que não volta. Hoje as músicas vão ser mais bonitas, e eu vou cantá-las como se cada uma tirasse um pedaço teu de dentro de mim. Hoje eu vou repensar os meus atos e esquecer os teus, porque a verdade bate na minha cara e me diz que o que eu vejo são fantasmas de um passado que nem existiu. 

Existiu em mim.


Mas hoje não.


E amanhã, não mais.


sábado, novembro 12

Epifania

Idiota. Absolutamente. E sabe, nem foi difícil ser tão estúpida assim. Foi até fácil demais, porque na real você não deixou muitas alternativas. Você simplesmente chegou, meteu o pé na porta e destruiu minha zona de conforto. Pegou o que te interessava e foi embora, de cara limpa, e nem se preocupou em arrumar a bagunça.


Minha zona de conforto está em pedaços, e nem foi tão difícil pra você. Foi ridiculamente fácil porque na real eu não ofereci resistência nenhuma. Você me achou no esconderijo aqui de dentro e me arrancou dele; me deixou partida em dois. Eu vi possibilidades enquanto você fechava os olhos. E vi segurança segundos antes de você explodir meu carro forte.


Eu só não vi o quão absurdamente idiota eu estava sendo.

quarta-feira, novembro 9

A ordem natural das coisas

E então o mundo parou. E eu fiquei olhando, enquanto as minhas expectativas eram desfeitas lentamente. O mundo não girou nem um centímetro, e em nenhum sentido; ele parou e eu observei como quem larga a mão da sorte e solta o corpo em queda livre.

Eu caí. 

E de repente algo me amparou. Um esperança, um fiapo de alguma coisa que me prendia e me impedia de receber o impacto que logo ia chegar. A poucos metros do chão eu parei numa escada que levava a uma porta meio mal tratada, um pouco judiada pelo tempo. Tinha algo nela que despertava toda minha curiosidade. Antes mesmo de perceber, eu já tinha estendido a mão para abri-la. A porta rangeu. 

Mas foi só. Ela não deu passagem.

E então eu quis voltar para a escada e ver aonde mais ela me levaria, mas já não havia escada. Não havia caminho de volta. Era a porta fechada ou o precipício de novo, a queda de novo: sensação que esmaga o peito. Só que a queda não era mais tão grande, e eu aceitei que às vezes esse é o único jeito de seguir: pra baixo, de volta pro começo.

E eu pulei.

Segundos depois eu parei naquele chão lamacento e gelado que me esperava, e as pedrinhas espalhadas me cortaram os joelhos e as palmas das mãos. Eu saí machucada, e ainda me dói. Mas aí o mundo girou de novo e começou a curar os arranhões. Porque, no fim das contas, foram só arranhões. E o mundo seguiu girando com todas as minhas esperanças quebradas, e eu observei cada uma delas morrer e dar o lugar a outras, que ainda não existiam.



Aquelas outras que virão.


segunda-feira, novembro 7

Nota III

Eu procurei as tuas mãos por debaixo do lençol, para pressioná-las entre as minhas e sentir a tua pulsação sob meus dedos. Então fechei os olhos e, protegida, quis dormir o teu sono tranquilo.




Eu fechei os olhos e passei a noite lutando contra meus dragões. Mas sou mais forte com o teu escudo, e por isso eu não tive medo.


É uma pena que você sempre suma quando eu acordo.



sábado, novembro 5

Sorriso do dia

Acho que no fim das contas vai ser sempre tudo assim mesmo. Eu vou segurar a confissão até o finalzinho, enquanto você vai continuar agindo como quem também não tem nada a dizer, e nós vamos seguir usando os mesmos sorrisos nos dias adequados. O meu sorriso de hoje é aquele que você viu no começo da semana, com aquela mesma empatia e questionamento. Sabe, tem dias que a gente repete de roupa, e tem dias que a gente usa a mesma expressão.

Me pergunto qual é o seu sorriso de hoje.

Eu já usei o sorriso amarelo por demais. Já cansei de ver no meu rosto a decepção disfarçada pelo riso histérico. Eu já usei mais os sorrisos de mentira do que os sinceros, mas o que eu uso para ti não é dos falsos. Ele é daqueles que vem de dentro, que escapam antes de eu poder segurar. Eu não lhe ofereço sorrisos vazios, porque eu acredito em tudo que lhe digo. E acho que no fim das contas vai ser sempre assim mesmo.

Me pergunto que sorriso eu queria lhe mostrar hoje. E qual você me daria em resposta.

terça-feira, novembro 1

Da nossa caixa

Há uma caixa onde nós colocamos todas as coisas que vivemos. Não importa o que seja, não importa se foi bom, não importa se fez mal; vai pra lá e fica, até ser achado de novo - para reabrir uma ferida, ou para costurar as partes soltas. A gente nunca acredita no tanto de espaço que ela tem, porque ainda que se guarde tudo, as coisas fogem de vez em quando, e deixam a caixa pra outros ocupantes. Às vezes nós até recebemos um aviso de "lotação esgotando", mas é só até as coisas se acomodarem e acharem o seu devido canto - ou sua rota de fuga.

Tem uma caixa dentro da gente que se chama coração.

E no coração tem de tudo. Tudo. Tem gente, tem dias, tem coisas. Tem coisa que dói ainda, e tem coisa que faz sentir bem. Tem gente que não presta e tem dias pra esquecer, mas também tem aqueles que valem a pena e uns momentos bons de lembrar como só. No coração cabe tudo que tu sentiste em cada dia da tua vida, e esses sentimentos às vezes ficam lá pra tu lembrares que é melhor sentir do que fingir que não quer, do que fingir que prefere ficar com as emoções antigas, com as coisas velhas. Cada um sabe o que guarda dentro da sua caixa, e cada um escolhe deixá-la aberta ou não.

A Pandora também tinha uma caixa, só que dela saíram coisas. Mas conta a lenda que a esperança, ou o não conhecimento do futuro, ficou lá dentro. A Pandora tinha uma caixa tão grande que cabiam todos os males do mundo, mas quando as coisas ruins saíram de lá pra assolar os humanos, (e essa parte do mito sou eu que conto) a esperança ganhou espaço e cresceu a ponto de encher a caixa inteira. Isso não está nos registros. A caixa de Pandora está cheia de esperança, e de tempos em tempos ela abre uma frestinha pra gente poder receber esse presente e renovar a nossa caixa. Mas se tu escolhes deixar a tua fechada, nem a esperança da Pandora pode ajudar. Quem fecha o coração faz uma escolha; e comete um engano.

No coração fechado nada entra e nada sai. Nada mesmo. Não renova, só revive - as mesas dores, os mesmos prantos, os mesmos momentos felizes e notálgicos. Aliás, é bem isso: um coração fechado é nostálgico. É preso num passado que se nega a perceber que o tempo não levou consigo os arranhões mal curados, e de tão mal intencionado que é, procura um jeito de coçar os machucados cicatrizados para que esses se abram novamente. E aí, eu digo, é triste demais.

Tem uma caixa dentro da gente que se chama coração. Ela não serve pra estoque de arquivo morto. Ela guarda tudo que tu vives, mas só mantém o que tu queres. Então não culpa o coração por ser lotado de coisa vencida, porque dessa caixa também se tiram coisas. E mais: ainda que cheia, nela tudo cabe.

E ela é grande pra caramba.