quinta-feira, novembro 25

Antes mesmo

Antes a noite clara de uma Lua sincera do que o dia quente de um Sol cruel. Antes a frieza da luz pálida de uma Lua minguante que persiste frágil num céu de breu; antes ainda a quietude do céu perante uma Lua imponente.

Antes a sincera frieza impotente de uma solidão quieta perante uma explosão de cruéis pensamentos avulsos de um Sol escaldante. Mais ainda - e antes mesmo de tudo - que isso convença e que baste.

quinta-feira, novembro 18

I don't care

Eu quis dizer. Eu tentei, só que a voz não saiu e eu apenas observei o descarrego de desaforos que vocês jogaram sobre mim. Covardes. Eu, que nem pude respirar sob tal enxurrada de calúnias, asfixiei sofridamente. Graças a vocês mergulhei mais fundo do que pensei ser possível, mas, também graças a vocês, hoje eu não ligo.

Então, peguem esse mar de descaso, de xingamentos, e se afoguem nele. Mergulhem, como eu fiz. Não se importem comigo porque eu agora vou fazer justiça aos "elogios" que me dedicaram: vou empurrá-los cada vez mais para o fundo; vou ser a egoísta e não ligo.
I don't care
I don't care what you believe
[...]
Not even earth can hold us
Not even life controls us
Not even the ground can keep us down
The memories in my head
I just realized the time we spent
You always be close to me, my friend
[This is not the end - The Bravery]

sábado, novembro 13

[aos meus] Guarda-vidas

No final o que sobra é aquele suspiro que vem de tão fundo que nem se sabe como. É aquele sentimento de "que se dane" invadindo o peito por dentro e corroendo as nossas relações por fora. O que sobrou - e isso eu vou segurar firme, até que os meus punhos gritem e parem de me obedecer - foi a cumplicidade absurda que encontramos em certas pessoas, que nos fazem sentir que não estamos, de fato, sozinhos no nosso próprio mundo.

No final, o que sobra é um suspiro de esperança e crença em algo que não se conhece, mas que se sabe real. É o suspiro que nem mesmo nos pertence porque no fundo da gente não há nada que possa gerá-lo. Então nós percebemos que algumas pessoas dedicam um tempo que talvez nem tenham para mudar a nossa percepção e a sensação de indiferença é estilhaçada pelo ombro de um cúmplice que encontra em nós a reciprocidade de que - talvez - precisava.

Exaustos mas seguimos. Suspiros de guarda-vida.

segunda-feira, novembro 8

Afluência

Aconteceu que não conseguiria segurar: em breve, todos os pensamentos mal criados sairiam de sua boca em uma profusão de palavras feias e sentenças sentidas. Em uma explosão de feridas calejadas libertaria-se das dores que há muito lhe assolavam, e quem sabe poderia até sentir-se melhor consigo mesmo. E com os outros?

- Que se danem os outros. Pelo menos agora.

Pelo menos enquanto poderia sentir que tudo não era tão ruim; pelo menos até que o coração apertado respirasse o bastante para cessar a insuficiência de algo por dentro, mesmo que preenchesse tal vazio com ar. Só queria que as palavras sentidas das frases feias fossem suficiente para acalentar um coração torto, débil. Não queria mais sentir saudades do passado quimérico de terceiros.

Mais presente próprio. Mais presente, droga.

terça-feira, novembro 2

Pro-fundo

Pensou que soubesse como sair. Quando era pequena costumava brincar lá em baixo por horas e horas; sabia escalar até a borda, sabia que quando a luz enfraquecia era sinal de que estava na hora de voltar e sabia que precisava olhar bastante em volta, para que ninguém a visse entrar naquele buraco e viesse buscá-la como se salvasse sua vida.

Pensou que ainda lembrava como descer até o fundo em segurança. Pensou que aquela corda ainda era capaz de suportar seu peso - mesmo que esse tivesse aumentado consideravelmente com o passar dos 10 anos que separavam aquele ontem do agora - e que o balde enferrujado sobrevivera à oxidação. Pensou que seria muito simples, como era antes.

Pensou que talvez existisse outra coisa lá, outra coisa que não havia quando ela fazia visitas frequentes. Quem sabe encontraria um pedaço de infância esquecida e voltaria à superfície mais completa. Mas as paredes do poço estavam cobertas de limo e a corda apodrecera. Não podia voltar e naquele momento desejou que alguém viesse salvá-la como se a buscasse de volta à vida. Desejou que o poço fosse mais raso, que a corda fosse ainda forte e que não tivesse pensado em descer. Quis que tivesse reparado na luz enfraquecendo.

O pior de tudo é que descera por vontade própria. No fundo não havia nada além do fundo do poço; a que grande e estúpida conclusão chegara.