domingo, janeiro 29

É você, não eu.

Eu pensei que era assim que as coisas aconteciam para os outros também, e que essa mania de achar que eu sou a errada em qualquer situação era a culpada pela insegurança de todo dia. Eu cheguei a pensar nos meus atos e avaliar minhas decisões, porque em algum momento eu teria de conseguir enxergar claramente onde foi que eu tinha feito a merda. Mas acontece que eu procurei tanto, e não havia nada para ser encontrado. Não existia uma grande cagada, nem um escorregão maior; não tinha motivos para você fazer o que fez, cara.

Só que hoje eu cheguei a uma importante conclusão. E ela é a seguinte: você foi um bosta.

Então eu decidi que chega dessa história de eu ser a coisa danificada nos relacionamentos, porque isso não é verdade. Não existe um defeito de fábrica aqui, e na real, eu fui até melhor do que eu costumava ser. E pior que ser melhor por alguém, é ser melhor por um merda. Por isso eu estou acabando de pisar nos últimos pedaços de sentimento reprimido; e agora você pode me assistir passar sem nem notar a sua insignificante presença.

Eu descobri que você é que não sabia como as coias funcionam. Então foda-se sozinho.

quinta-feira, janeiro 26

Repinta, revive, renova

Vamos apenas imaginar que isso tudo foi diferente. Que você não desligou o telefone para me evitar, e que eu não saí de casa para não correr o risco de ter de abrir a porta para você (ou de ter que mandá-lo embora). Vamos apenas fingir que nada disso aconteceu, e que ambos estávamos ridiculamente errados - e que entendemos isso. Quem sabe nessa brincadeira a gente realmente entenda o quão ridículos temos sido.

Vamos reparar essa porcaria toda.

Amanhã você pode aparecer lá em casa com as tintas, o solvente, pincéis e o que mais você achar necessário trazer. Eu mando uma mensagem pro seu telefone com o horário mais apropriado, que você vai receber assim que ligar o aparelho de novo. Aí então, quando você chegar, vamos apenas nos abraçar e começar a trabalhar nessa coisa que nós temos - até ela perder a palidez e ganhar algum ar de vida.


Mas que fique claro que eu quero um ar de vida de verdade, e não um desses que a gente já tinha.

terça-feira, janeiro 24

Nós e laços - Postagem Temática

Tu estavas lá, como sempre, apoiada no bar, quando ele - de longe - te chamou para dançar, antes de nada acontecer. Nem disse o porquê, nem disse que não; você nem o notou, e o coitado ficou lá, ainda te olhando, como quem se convence de alguma mentira. Mas eu acho que a mentira devia ser realmente boa, porque ele não deixou de te olhar nem um minuto. E, sabe, tem daquelas vezes que você enxerga nos outros um futuro bom pra alguém, como eu enxerguei para ti. Só que tu não o viste, e nem viste o que eu vi.

Há quanto tempo eu te vejo nesse mesmo lugar? Nesse mesmo bar, nesse mesmo copo. Nesse mesmo corpo. Quantos nós te prendem a essa vida a qual tu te limitas? Quantos de nós ainda te querem por perto? É meio triste pensar que você estará sempre lá, com um sorriso nos lábios e uma história vazia, enchendo mais um copo, enchendo o saco, secando os olhos e contando falsos fatos. Você estará sempre lá, ignorando a música; amarrando pontas e pintando traços. Bebendo à frustração dos nós.
[dos cegos.]

Você nem sabe mais como foi que ficou assim, tão amarrada.



Triste é ver que você tem tantos nós, mas nada de laços. E esses nos teus cabelos não contam.


_____________________________________________

Esse post é um oferecimento do Blogsintonizados, que teve como tema LAÇOS. Para a próxima rodada eu sugiro o tema CALOR - super, e infelizmente, "in" nessa época.

Queria registrar minha satisfação em ver esse projeto de volta, e de voltar a escrever para ele. Espero que mais blogueiros ainda se juntem ao Sintonizados e que o projeto não pare mais. Quem quiser participar, acessa o Blogsintonizados e se inscreva!

domingo, janeiro 22

[eu não tenho um título para isso]

Naquele dia eu acordei absurdamente feliz. Seria o dia em que uma história tensa e sofrida teria fim, e um novo tempo iria começar para todos nós. Seria o dia mais feliz da tua vida, também, e isso por si só já era suficiente para que eu ficasse totalmente radiante. Mas então aconteceu que naquele dia um tornado passou por todos nós. E levou tudo que deveria ter sido teu.

Aquele dia terminou absurdamente ruim e completamente diferente do que deveria ter sido. Aquele dia matou sonhos que nós tínhamos, matou o sorriso que eu veria nos teus lábios, e amassou uma esperança que eu insisto que tu recuperes. Eu torço para que tu a recuperes. Porque a culpa não foi tua, se um tornado resolveu chegar na pior hora.

A culpa não foi tua. E eu peço a todas as entidades que possam existir em todas as crenças para que tu consigas reviver os sonhos e a esperança de outro dia. E mais ainda, eu peço para que aquele sorriso perdido não seja esquecido, ou mantido longe de nós.


Eu acredito em ti.

quinta-feira, janeiro 19

Soma

Foi o frio na barriga que te fez fazer nada, congelar no espaço e permanecer sem se quer mover os olhos. Foi o mesmo frio na barriga que disse a ela que andasse, e que não retribuísse o olhar. Foram as toneladas de sonhos quebrados que construíram os muros de vidro, que a deixavam ver através das paredes mas insistiam em prendê-la entre cacos pontiagudos. E tu bem sabe que, na verdade, tiveste foi medo de pular as lâminas, juntar os numerosos motivos e descobrir o resultado da equação.


Mas eu não estou aqui para te julgar.
Foi a soma que te matou.

domingo, janeiro 15

Funeral

Tantas vezes lutei para proteger minhas vontades que já nem sei mais quantas delas valiam a pena. Você deve entender, já que me disse isso tantas vezes, mas só agora eu fui capaz de enxergar quantas vidas eu poupei em vão. Quantos sonhos mantive trancados em mim, por não ter coragem de assumir que ficaria de mãos vazias me desfazendo de todos... Eu já não sei mais quem eu queria ser, quem eu era, e pior: quem eu sou.

Tantas vezes deixei passar minha chance de permitir que algumas coisas morressem.

E você agora me olha com essa cara de quem já sabia que essa hora iria chegar, e nem mesmo parece comovido com o momento. O momento em que eu enterro partes de mim que sobreviviam com ajuda dos cantos saudáveis, e que sugavam do meu lado bom toda a vida que eu tinha.

O que me assusta é que não faço nem ideia do que vai sobrar de mim quando eu terminar de desligar as pontes entre as partes. Ainda não descobri em quais aspectos eu era morta, e em quais eu vou continuar sendo. Eu só espero chegar a conclusão de que deixei morrerem os cantos certos.



Hoje morreram muitas de mim.
Eu sinto muito se você gostava de alguma delas.

terça-feira, janeiro 10

Órfãos

Fomos abandonados. Pelos erros, pelos medos, pelo não dito. Fomos abandonados por medo das palavras certas. Fomos deixados de lado pelos olhos desconfiados, pelos corações partidos; e fomos apagados pelas memórias covardes dos sentimentos feridos. Mas fomos também mortos, dormindo.

Fomos silenciados pelos lábios, pelos segredos descobertos. Fomos julgados pelos bêbados, e abandonados por todos eles. Corremos no sentido contrário e esquecemos de apagar as luzes da casa. Saímos dos esconderijos desabados e entramos na cova que fizemos.

Abandonamos a nós mesmos.

domingo, janeiro 8

Nota VI

Ela poderia ficar a noite inteira ali, olhando a expressão daquele cara que parecia gostar de alguma coisa nela. Ela poderia ficar olhando aquele cara até cansar as vistas, porque alguma coisa estava muito certa ali. Alguma coisa encontrava nele um motivo para ficar.

E ela poderia ficar o tempo que fosse.

Sentiu quando o relógio desacelerou seus ponteiros no momento em que aqueles olhos olharam bem dentro dos dela, quando eles encontraram mais do que um grande vazio refletido na margem das pálpebras. O tempo não fez questão de andar em seu passo normal. O tempo queria que ela lembrasse daquele momento, e que guardasse aqueles olhos e o que eles tinham enxergado dentro dela.

O relógio não andou porque sabia que aquele sorriso não conseguiria ficar ali para sempre. Mas mais ainda porque sabia que ela iria valorizar cada segundo esticado.




Ele a fez lembrar de uma vida diferente, de um tempo onde as coisas aconteciam e ninguém notava. Ela chegou a pensar numa vida diferente para dali a diante. Que um dia eles dividiriam. quem sabe.

quinta-feira, janeiro 5

Rascunhado

Precisava ter motivos para os suspiros esperançosos. Precisava perder a mania de pintar  príncipes em sujeitos distantes, difíceis, indiferentes. Pintava sorrisos, trejeitos, todos traços que queria, e depois encontrava alguém a quem creditar tamanha perfeição. E era tudo absurdamente perfeito.

Mas a verdade é que ela só gostava de admirar - de longe. Pessoas perfeitas não são para ela.

E nenhum desses desenhos minuciosos produziam algum sujeito que lhe servisse. Nenhum deles era falho, como ela, e nenhum deles jamais entenderia o quanto ela queria que eles o fossem. Nenhum dos traços encontrariam nela uma combinação, porque ela não era feita de retas ou curvas cuidadosamente calculadas.

[Era feita de tantos rabiscos que nem mesmo sabia 
dizer quando deixaria de ser 
um rascunho descuidado] 

E a verdade é que precisava de suspiros motivados; da esperança dos sorrisos. E de nenhuma droga de príncipe encantado. Precisava deixar seus rabiscos nos contos que fazia e passar a terminar de desenhar a si mesma. Mas desenharia-se á mão livre, sem moldes ou formas; com retas tortas em linhas invisíveis. Ainda que saísse errada.