domingo, julho 26

A minha máscara - Postagem temática

Ele evitava o meu olhar. Eu sabia que aquele olhos não eram mais os meus. Estavam perdidos num mar furioso de sentimentos contraditórios; ao mesmo tempo que queriam conceder o perdão, evitavam qualquer tipo de fraqueza. Ponderavam, em um silêncio amargo. Ele evitava me olhar nos olhos como se eles fossem deflagrar o último e impiedoso golpe sobre sua certeza auto-protetora. Evitava meus traços para não perder o pulso.

Aquele não era o rosto dele; não era o meu rosto. A amargura passara a sair do silêncio para ficar estampada em suas feições, como se apenas aquela expressão dura e irreconhecível fosse suficiente para me fazer dar as costas e partir. Mas não era. O olhos frios e presunçosos continuaram a me observar, ansiando o momento que eu diria que era tudo uma brincadeira de mau gosto, os lábios sorriam um sorriso torto como se rissem de si mesmo; ou de mim. Não era uma brincadeira, ele sabia. Eu não merecia o perdão, e eu sabia.

Sentou na pedra lisa, tapou o rosto com as mãos por alguns segundos e quando as baixou eu podia reconhecê-lo. Os meus olhos, o meu sorriso, a minha expressão despreocupada de quem não tem planos... Era ele, e era meu de novo. Toquei seu rosto com a ponta dos dedos, sentindo uma pele fria e rígida, como se fosse porcelana. Ele baixou o rosto e alguns cacos se espatifaram no chão, colorindo o solo rochoso com pontos marfim da máscara que cobrira seu rosto por todo tempo que estivera ao meu lado.

Ele não era o único que fora enganado; e talvez não houvesse mais sentido pedir perdão.



[sugestão de tema: presente]

terça-feira, julho 21

Uma porta aberta

Arrumou as malas e trancou a porta. Nem notou quando seus passos resistiram ao sair daquele lugar por estar tão desesperada por algo novo. Algumas fotos ficaram dentro do apartamento pequeno, outras poucas se esconderam no fundo da mala; as recordações que ela não tinha certeza se queria realmente apagar. A chave girou na fechadura e toda uma vida ficou para trás.

Em cada degrau que descia, alguma coisa ficava. Uma bolsa, um casaco, uma agenda... e a cada degrau ela podia sentir o peso em sua consciência se esvaindo, se acabando. Ao pé da escada que levava à porta daquilo que a abrigara, não havia mais nada em suas mãos. Carregava com ela apenas seus próprios sonhos e esperanças.

Finalmente, o primeiro passo de sua plena liberdade. Alguma coisa teria que acontecer.

quinta-feira, julho 16

O plano perfeito era não ter um

Eu não queria fazer planos nem traçar objetivos que talvez nunca serão atingidos para depois não sentir aquela coisa por dentro... que não é tristeza (não no começo, pelo menos), talvez um pouco de raiva com a sensação de incompetência gritando nos ouvidos o tempo todos. Eu não queria, mas inevitavelmente eu os faço.

Não são projeções para o futuro próximo, mas para aquele futuro que não se sabe quanto tempo vai demorar para chegar; e se vai chegar. E imagino tantas coisas e de tantas formas que em surtos de consciência e auto-preservação eu tento de todas as maneiras afastá-las. Digo a mim mesma para não ser ridícula, para evitar decepções. Mas será que vale a pena? Não sonhar, não fazer o plano de viagem, deixar as coisas irem acontecendo sem me importar com o rumo que elas estão tomando quando esse rumo me afasta completamente dos meus desejos inconscientes (ou talvez não tão inconscientes assim)? Será que sonhar só é saudável quando se está dormindo, afinal. Acho que o problema não é o sonhar, mas o despertar. Por vezes tão cruel.

Eu tenho um plano e tenho medo dele. Medo não conseguir chegar lá, ou de não conseguir nem mesmo sair daqui. Não é um plano perfeito; mesmo que fosse eu não o queria. Mas eu sou humana e às vezes pateticamente burra. Não importa se eu não quero. Eu sempre os tenho.

terça-feira, julho 14

Livro

"Livro é um volume transportável, composto por páginas encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso e/ou imagens e que forma uma publicação unitária (ou foi concebido como tal) ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outro." [http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro]

ou

Uma porta (ou a saída de emergência, se preferir) para um lugar totalmente desconhecido e não necessariamente real, te contando uma história e ainda te convidando para fugir.


É, eu prefiro a minha definição.

segunda-feira, julho 13

"Dias melhores virão"

Eu sei disso, mas por que é que tem de demorar tanto?

quarta-feira, julho 8

quando o copo está para transbordar

Não era ele. Era a forma como ele se sentia mais importante do que qualquer um. Era pensar que todos precisavam atender aos pedidos dele, sem nunca precisar se mexer pra ninguém. Era gritar tão, mas tão alto e continuamente que impossibilitava qualquer chance de estabelecer um diálogo passional, até que vencesse no grito. O que a incomodava não era ele, mas sua falta de consideração.

domingo, julho 5

"Se lembrar de celebrar muito mais"

Num passado remoto eu queria ser algo que, hoje, tenho certeza que nunca seria. Num passado recente eu não fazia a menor ideia do que eu queria da vida. Por muito tempo tive vida, sem nunca saber como vivê-la.

É como se te dessem um casaco que não te serve e, por mais que se saiba que nunca vai servir, tu simplesmente não troca, como se quem te deu fosse importante e querido demais para que tu se quer ousasse correr o risco de desapontar. A minha vida nunca serviu em mim; ora sufoca, ora sobra... Mas agora eu nem sei. Acho que finalmente troquei de casaco.

No meu presente eu não sei quem eu quero ser. Aliás, pra ser sincera, acho que só quero encontrar uma forma de ser quem eu sou, sem me ocupar com coisas menores e nem me preocupar com coisas inexistentes. O que eu quero é ser feliz.



PS: Mana, sim... "a poesia prevalece".