segunda-feira, junho 29

Canção da meia noite

Era 00:01. Ela escutava músicas que já tinha esquecido e não pensava em nada. Não havia o que pensar, nada pra se preocupar. Os minutos passavam na velocidade normal e ela nem se importava. Todos na casa dormiam, talvez ela também, e se estivesse sonhando, estava feliz. A música continuava a tocar como era esperado, mas já não era ouvida; as atenções estavam voltadas para a estranha sensação que dominava sua mente, um desconhecido e sem motivo bem estar.

Liberdade. Pura e simples, era o que parecia. O silêncio da noite era convidativo a uma longa reflexão, uma discussão interna com direito a julgamentos e conclusões. Mas naquela noite não. Naquela noite ela não pensava em nada e os minutos tinham de passar na mesma velocidade.

segunda-feira, junho 22

Nada romântica

Sentimentalismo pra quem precisa usá-lo. Seja pro que for, eu não quero. O que se sente não precisa ser posto em palavras que formam frases clichês só para ser entendido. Quem ama, ama e pronto. Ama num olhar, num abraço, num aperto. Quem ama por inteiro se faz entender em um gesto, ou até no silêncio.

O frio ama tanto quanto o explícito. Ama por completo, mas por dentro. Sentimentalismo sufoca. Amemos com a cabeça, não só com o coração. O coração é egoísta e exige de volta tudo que oferece, mesmo que por esmola. A consciência cala e ama enquanto houver reciprocidade espontânea.

quinta-feira, junho 18

Enquanto Agosto não chega

Seis meses sem as costumeiras ocupações podem parecer ótimos, mas para mim não tem sido. Desde que terminei o colégio a minha vida passou de superagitada para uma tranquila, frustrante e cansativa rotina de dona de casa; isso não me deixa nem um pouco feliz. Nada contra as donas de casa, mas eu não nasci com essa vocação.

Esse ano tem sido uma incógnita. Depois de terminar o colégio e, em Janeiro, passar no vestibular eu perdi meu chão: minhas aulas só começariam em Agosto e até lá eu teria 6 longos meses pela frente. Fevereiro passou rapidinho e foi bem divertido; porém, quando Março começou e todos voltaram às suas atividades normais eu senti o que seriam os próximos meses: total e completo tédio, exceto em horas salvadoras em que desfruto da companhia de pessoas interessantes.

Aqui em casa todos saíam de manhã ou perto do meio dia. Depois do almoço eu ficava sozinha, sem nada pra fazer. Quer dizer, sem nada legal pra fazer, porque a casa ficava todinha aqui, e, tendo a minha mãe dispensado a senhora que trabalhava aqui, ela ficava inteirnha pra eu limpar. Eu não estou me fazendo de coitadinha; vamos combinar que ninguém gosta de lavar louça, varrer, tirar o pó, passar roupa (e bota roupa nisso!) ... Mas, não havendo mais nada pra me ocupar eu fazia tudo, e nem reclamava. Foi aí que começou a transformação.

Depois de um mês eu já tinha aceitado a minha rotina e era impressionante como pequenas coisas me irritavam. O farelo do pão que o meu irmão estava comendo que caía no chão que eu tinha acabado de varrer ou a pilha de copos que aparecia na pia dois minutos depois de eu terminar de lavar a louça... Coisas desse tipo. Eu estava me tornando um dona de casa que ainda assistia a programas de culinária quando dava tempo e esperava pela chegada do pai com o café passado e quentinho na garrafa térmica. Posso dizer que esses meses me fizeram uma filha prendada e revelaram um lado meu que, acredito eu, só descobriria quando saísse de casa.

Agora, finalmente, restam apenas dois meses dessa rotina. Semana que vem eu faço a minha matrícula e aí é só esperar por Agosto. O meu pai me perguntou quem faria o café quando as minhas aulas começassem... Acho que deixei ele um pouco mal acostumado.

Quando Agosto começar a minha vida começa de novo. Mas eu não sei que vida vai ser. Espero que seja uma daquelas bem agitadas e interessantes. A UFRGS que me aguarde; tá chegando mais uma estudante curiosa e com sede de conhecimento pro curso de Comunicação Social - Jornalismo.

E vamos ver no que dá.

domingo, junho 7

Último copo

Festa. Música, pessoas, copos, corpos. Luzes, de todas as cores e por todos os lados. Copo cheio e vazio e cheio de novo. Dança, amigos, risadas, conversas não entendidas e não terminadas. Copo vazio, cheio, vazio, cheio... Muitas luzes, pessoas girando, paredes girando. Copo vazio, garrafas vazias. Tudo girando, luzes cegando.

Sentindo-se mal, saiu da festa e entrou no carro. Queria sua cama, seu conforto para aguentar a ressaca de amanhã. Carro ligado, postes andando na pista, olhos cansados e cabeça ainda girando.
Carros vindo, luzes vindo, luzes de todos os lados. Pista da cabeça pra baixo.
Sirene, pessoas, corpo.