domingo, janeiro 15

Funeral

Tantas vezes lutei para proteger minhas vontades que já nem sei mais quantas delas valiam a pena. Você deve entender, já que me disse isso tantas vezes, mas só agora eu fui capaz de enxergar quantas vidas eu poupei em vão. Quantos sonhos mantive trancados em mim, por não ter coragem de assumir que ficaria de mãos vazias me desfazendo de todos... Eu já não sei mais quem eu queria ser, quem eu era, e pior: quem eu sou.

Tantas vezes deixei passar minha chance de permitir que algumas coisas morressem.

E você agora me olha com essa cara de quem já sabia que essa hora iria chegar, e nem mesmo parece comovido com o momento. O momento em que eu enterro partes de mim que sobreviviam com ajuda dos cantos saudáveis, e que sugavam do meu lado bom toda a vida que eu tinha.

O que me assusta é que não faço nem ideia do que vai sobrar de mim quando eu terminar de desligar as pontes entre as partes. Ainda não descobri em quais aspectos eu era morta, e em quais eu vou continuar sendo. Eu só espero chegar a conclusão de que deixei morrerem os cantos certos.



Hoje morreram muitas de mim.
Eu sinto muito se você gostava de alguma delas.

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