quinta-feira, janeiro 5

Rascunhado

Precisava ter motivos para os suspiros esperançosos. Precisava perder a mania de pintar  príncipes em sujeitos distantes, difíceis, indiferentes. Pintava sorrisos, trejeitos, todos traços que queria, e depois encontrava alguém a quem creditar tamanha perfeição. E era tudo absurdamente perfeito.

Mas a verdade é que ela só gostava de admirar - de longe. Pessoas perfeitas não são para ela.

E nenhum desses desenhos minuciosos produziam algum sujeito que lhe servisse. Nenhum deles era falho, como ela, e nenhum deles jamais entenderia o quanto ela queria que eles o fossem. Nenhum dos traços encontrariam nela uma combinação, porque ela não era feita de retas ou curvas cuidadosamente calculadas.

[Era feita de tantos rabiscos que nem mesmo sabia 
dizer quando deixaria de ser 
um rascunho descuidado] 

E a verdade é que precisava de suspiros motivados; da esperança dos sorrisos. E de nenhuma droga de príncipe encantado. Precisava deixar seus rabiscos nos contos que fazia e passar a terminar de desenhar a si mesma. Mas desenharia-se á mão livre, sem moldes ou formas; com retas tortas em linhas invisíveis. Ainda que saísse errada.

2 pessoa(s) disse(ram) que:

Anônimo disse...

Ótimo texto, bem explicado sobre a condição do ser apaixonado em olhar para alguém como um sonho, que não olha defeitos e esquece de cuidar de si mesmo em se tornar o sonho dode oitra pessoa.

Gabriela Antunes. disse...

Valdemir,
Creio que importante sãos os nossos traços, os que nos formam e o que nos fazem, e não os traços que fazemos para os outros.

Obrigada pela visita, e espero que voltes a perambular por essas bandas.

Uma boa semana!