quarta-feira, novembro 9

A ordem natural das coisas

E então o mundo parou. E eu fiquei olhando, enquanto as minhas expectativas eram desfeitas lentamente. O mundo não girou nem um centímetro, e em nenhum sentido; ele parou e eu observei como quem larga a mão da sorte e solta o corpo em queda livre.

Eu caí. 

E de repente algo me amparou. Um esperança, um fiapo de alguma coisa que me prendia e me impedia de receber o impacto que logo ia chegar. A poucos metros do chão eu parei numa escada que levava a uma porta meio mal tratada, um pouco judiada pelo tempo. Tinha algo nela que despertava toda minha curiosidade. Antes mesmo de perceber, eu já tinha estendido a mão para abri-la. A porta rangeu. 

Mas foi só. Ela não deu passagem.

E então eu quis voltar para a escada e ver aonde mais ela me levaria, mas já não havia escada. Não havia caminho de volta. Era a porta fechada ou o precipício de novo, a queda de novo: sensação que esmaga o peito. Só que a queda não era mais tão grande, e eu aceitei que às vezes esse é o único jeito de seguir: pra baixo, de volta pro começo.

E eu pulei.

Segundos depois eu parei naquele chão lamacento e gelado que me esperava, e as pedrinhas espalhadas me cortaram os joelhos e as palmas das mãos. Eu saí machucada, e ainda me dói. Mas aí o mundo girou de novo e começou a curar os arranhões. Porque, no fim das contas, foram só arranhões. E o mundo seguiu girando com todas as minhas esperanças quebradas, e eu observei cada uma delas morrer e dar o lugar a outras, que ainda não existiam.



Aquelas outras que virão.


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