quinta-feira, abril 12

Que toca

Então ele parou de tocar, sem ver que ela estava completamente absorta nos movimentos que fazia com os dedos pelo braço do violão. Ele não viu, mas foi como se a tivessem puxado à força, de volta para a realidade. De volta para as pessoas sem cor, sem coração.

Ele parou porque o dia estava acabando, e suas moedas não durariam muito tempo se permanecessem à vista dos olhos mal intencionados dos moleques. Os dedos dele ainda pediam por mais uns minutos, mas o juízo que sabia da importância de cada trocado o fez recolher seu violão e guardar seus ganhos. 

Ela esqueceu para onde estava indo na hora em que o homem se ergueu e tomou seu rumo. Ela esqueceu-se do rumo que havia escolhido para si, pois preocupou-se em achar os dedos que tocassem de novo aquela melodia. A melodia que lhe oferecera uma passagem para um jardim florido; a melodia que pintou as cores da vida numa vida que ela já desistira de correr atrás.

Ele só parou porque não notou os sonhos dela amarrados em cada uma de suas notas. Se soubesse... se soubesse seu juízo o faria ir embora, de qualquer maneira. 

Mas ela gostava de pensar que talvez ele tocasse mais uma vez.


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