domingo, janeiro 30

Da vontade

Eu nunca pensei que fosse sentir essa vontade absurda de ser. Simplesmente ser. Sem restrições, sem travas, sem cinto de segurança. Nunca pensei que o que eu mais queria fosse ter tudo - sim, eu disse tudo - fora - sim, eu disse fora - do meu controle. Eu cheguei a tentar começar a dizer isso pra ti, mas achei que tu fosses pensar que era só mais uma das minhas crises, e não me levaria a sério. Tu, algum dia, deixaste de me levar a sério?

Eu não disse que estava farta. Eu engoli a minha vontade de ser porque simplesmente não me cabia o direito de querer mais do que me fosse possível. Eu quis abandonar a minha pose, cortar as minhas fotos ou apenas retirar-lhes a cor; porque a minha vontade de ser me fez notar todos os tons de cinza que eu tingi de amarelo choque e rosado celeste - se isso se quer existe. Eu percebi que deixei de ser uma pessoa melhor no momento em que me esforcei para ser boa. Suficientemente boa aos olhos alheios. Não apenas aos teus. A qualquer par de olhos. Tu, algum dia, me levaste a sério?

Porque, agora, eu sei que alguma coisa não está certa. Alguma coisa está realmente muito torta. Como eu faço para ser sem deixar de manter a minha vontade guardada em um lugar seguro? Não a vontade de ser - essa eu preciso libertar - mas a vontade de desistir de ser boa. Eu não quero ser boa para ti. Eu quero ser boa para mim, por enquanto.

E eu espero que tu estejas me levando a sério. Mesmo.


0 pessoa(s) disse(ram) que: