sábado, janeiro 8

O jeito

Ele tinha aquele jeito de quem não se importa, sabe? Como quem já tem (ou teve) tudo que queria e agora já não dava mais bola pro que ia e vinha da sua vida. Mas é mentira, acredita. Eu pensei que ele fosse melhor nessa coisa de esconder sentimentos, mas os olhos e as linhas de expressão do rosto dele nunca deixaram que eu me enganasse: ele queria mais era dizer muita coisa, mas engolia junto com o nó que às vezes aparecia na garganta. Ele parecia não se importar, porque fica mais fácil aceitar as coisas ruins quando a gente não se importa.

Fica mais fácil de disfarçar os ciúmes, de sorrir amarelo, de respirar fundo com o coração apertado. Mas eu disse pra ele deixar de fingir. Ele não é de pedra, mas a gente endurece a sensibilidade se fica evitando transparecer as coisas... porque tem uma hora que, de tanto evitar transparecer, a gente deixa de sentir. E isso não é bom.

Eu disse pra ele mudar esse jeito, ser mais quente por dentro. Mais "sim, eu me importo" e "não, não está tudo bem" quando for necessário, porque assim fica melhor. Fica mais próximo. Mais humano.



Mas aí ele olhou pra mim e devolveu:
- E como tu poderias saber disso?

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