sexta-feira, setembro 24

Da noite, da Lua e da Névoa

Através da janela assisti o Sol se pôr e dar lugar para a Lua, que já estava tímida brilhando no céu. Da janela do segundo piso da casa velha eu acompanhei o dia virando noite e a noite virando chuva de prata, de tantas estrelas que se podia ver. Até estiquei a mão para apanhar uma delas, mas ela me olhou com olhos pidões e eu me senti mal por ter tentado tirá-la de seu espetáculo pessoal.

Através do vidro embaçado pela minha respiração eu vi a névoa da noite abandonar as estrelas para acompanhar as pessoas que passavam lá em baixo, do outro lado da rua. Eu lembrei do quanto a Lua devia ficar incomodada com a presença daquela coisa que intimidava as pessoas, e que por isso deixavam de admirar seu brilho. Da janela do quarto eu imaginei a névoa pedindo desculpas para a Lua, e prometendo que não ficaria muito tempo, e a Lua sorrindo gentilmente de volta, como se seu enorme coração invisível fosse capaz de perdoar qualquer coisa.

Eu quis ser como a noite, que soube se impor ao maior astro do sistema... e como a névoa, que ousou interromper o as luzes de prata de um céu cheio de estrelas. Mas tive mesmo inveja do coração da Lua, que nem mesmo era de verdade e, ainda assim, era melhor que o meu. Melhor até que a minha utopia de coração; melhor do que a minha vontade de ser coração.

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