sábado, março 6

Sem fadas, porque elas não existem.

O meu conto de fadas começa com eles sentados num balanço, daqueles das casas da árvore, com folhas enroladas pelas cordas como os cachos castanhos do cabelo dela enrolados pelos dedos dele. Num fim de tarde dourado, de um outono mais frio que o de costume. Era a última tarde deles.

O meu conto de fadas começa onde o deles termina; um sorriso torto, um choro contido, um abraço distante e um cumprimento amigável. Ela dizendo que não podia mais, ele aceitando com um suspiro arrastado... Uma última tarde de outono.

Naquele parque, onde o conto deles começara e agora chegava ao fim, o vento não soprava mais e já não tinha as flores da primavera. Não era o mesmo lugar, a não ser pelo endereço. Ela não usava, então, os vestidos alegres e ele não andava mais com a sua motocicleta. Eram dois.

O meu conto de fadas não sai da primeira cena. É a única que permanece depois de toda uma história; apenas a estranha sensação de que alguma coisa se perdeu, em algum lugar por entre as folhas enroladas na corda do balanço. O meu conto é sobre um mundo empoeirado de momentos congelados, exibidos na mesma prateleira dos assuntos pendentes e mal resolvidos. É sobre os passados bons tempos, nunca os presentes, e sobre os cachos castanhos nos dedos errados.

Ele acontece num reino não tão distante, que fica às margens de um lago profundo onde as dores e as frustrações são afogadas; mas não mortas. Um reino não tão distante, repleto de bons tempos passados, que alimenta seus moradores com as lembranças nostálgicas de um conto esquecido.


Era uma vez, nesse reino não tão distante, um punhado de cachos perdidos no vento.

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