domingo, junho 24

Aperto

Ela aceitou entrar na dança e abrir o coração para o estranho a para as coisas que não aconteciam na vida antes daquele dia. Ela resolveu dançar os passos descompassados do vazio de antes para então deixá-los sair de si. Dançou, girou, sorriu, cantou suas músicas a plenos pulmões para então aceitar a lágrima que escorria indiscreta pelo rosto. Felicidade demais vem acompanhada de coisa que dói; e ela não sabia como não dar bola para aquilo.

O aperto esmagava os pulmões, que apressadamente buscavam fôlego para a próxima música.

Ela entrou na dança e correu o salão inteiro. Ela abriu o coração para o estranho e achou que era certo ser idiota por uma razão sincera. Entrou na roda e, tão disposta, tirou os sapatos para que nada no corpo doesse e a fizesse parar. Ela tirou os sapatos mas ficou com o coração; ingênua, pensou que só o sapato fizesse doer.

Sentiu o aperto nos pés aliviando. Sentiu um aperto mais forte no peito, crescendo.

Ela entrou na dança e dançou as batidas intensas que não ouvia há anos. Quis escolher uma música quando o destino mudou a trilha e abriu a roda. O salão agora tem o tamanho do mundo. E o coração, ainda apertado, sente que não cabe mais naquele peito. Ela resolveu dançar a dança dos que se vão.


E está indo mesmo.


O estranho ainda lhe dói, mas não parece saber o que faz.


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