2008 foi um ano meio estranho pra mim. Correria de colégio pela manhã, pré-vestibular durante a tarde, estudos nos fins de semanas, aulas extras em feriados, domingo, sábados... Cansativo. Muito cansativo.
Por várias vezes deu vontade de jogar tudo pro alto, rasgar livros, soltar o verbo. Mas, nessas horas, paciência. No fim, sempre vale a pena.
Decepções eu tive muitas. Talvez, por me recusar a acreditar que as pessoas são como são, e nem sempre o jeito de ser corresponde às expectativas que criamos. Aprendi a não criá-las.
Conheci pessoas novas. Especiais de verdade. Pessoas que me mostraram o lado bom de cada situação quando eu não conseguia, e que tornaram a minha dor menor quando não havia lado bom pra mostrar. Palavras de apoio, ou, simplesmente, silêncio de cumplicidade.
Aprendi a pensar mais em mim. A ter certeza de que era feliz entes de sacrificar coisas pelos outros. “Egoísta”, podes me chamar se quiseres. Não me arrependo de ter negado apoio, quando era eu quem o precisava. Eu não sou obrigada a adivinhar as necessidades dos outros e, para satisfazê-las, esquecer das minhas. Alguns “amigos” não me entenderam. Não fazem falta. Os AMIGOS continuam comigo.
O tempo custou pra passar; mas agora me parece ter sido tão rápido. Deixei de fazer muitas coisas, de falar muitas coisas; mas também acumulei experiências incríveis e estas me guiam, hoje.
O primeiro “balanço” fica por aqui. Meu tempo é curto... preciso arrumar minhas coisas pra aula da tarde. Precisava de mais horas para viver no dia e mais horas para dormir à noite... Acrescentei horas na minha manhã... Matei dois períodos de aula. Devia ter feito isso mais vezes...
De onde eu estava não era possível saber se ela delirava, sonhava acordada... Se eu estivesse do lado dela, provavelmente, também não saberia. Mas o fato é que ela não dizia nada, apenas sorria e suspirava. Talvez fora promovida; talvez fora pedida em casamento; comprara um carro; mudara-se; estava com as malas feitas e se mandaria pra qualquer lugar... Talvez, simplesmente, estava de bom humor e queria extravasá-lo.
Eu a fiquei observando por todo o tempo em que estive no trem. A guria sorriu da estação Mercado até a Niterói, onde desci, e dali em diante não sei dizer o que foi feito do sorriso dela. Possivelmente continuou estampado na fronte, contemplando mentalmente o motivo que a deixara daquele jeito. Outras pessoas, então, olhavam para ela e, quem sabe, procuravam no sorriso dela um motivo para sorrir também.
Se os outros sorriam, não sei. Mas a guria sorria.
Os primeiros passos foram lentos e desequilibrados; o corpo cansado se fez tão pesado que ela mal pôde sustentar seu peso sobre suas próprias pernas. Parou. Segundos depois, conseguiu direcionar-se à cozinha; entrou. A cozinha estava escura – era muito cedo e o sol ainda não havia nascido e a lâmpada estava queimada – mas, felizmente, já não estava mais tão escuro que não se pudesse enxergar. A chuva caía mais intensamente agora.
Abriu a geladeira e pegou a caixinha de leite. Vazia. Assim estavam os armários, e a geladeira também; não fosse a caixinha. Era dia de “fazer o rancho”, como se diz aqui no sul. Acontece que o dia anterior havia a deixado exausta e encarar uma tarde no supermercado seria tudo que ela não estava disposta a fazer. Percebeu que seus olhos estavam se fechando sozinhos e que sua cabeça pendia para frente de tempos em tempos. “Sono...” pensou.
Deu meia volta e tomou o caminho do quarto. Do nada, um forte puxão a fez despencar; porém, não caiu no chão e sim num abismo que se abrira sob seus pés. Caía... caía... Parecia que nunca chegaria ao chão, o que a deixava feliz, de fato. A sensação do vento batendo no rosto e de seu corpo abandonado em queda livra fazia-lhe bem, mas não queria saber o que aconteceria quando o vento parasse de acarinhar sua face. Abriu os olhos e viu a superfície de um rio se aproximando, cada vez mais rápido... mais rápido, mais rápido... e de repente...
O contato com o colchão macio a fez dar um pulo na cama e agarrar seu travesseiro. Achou-se deitada na cama, com o coração acelerado. Eram 5 :30 da manhã e, embora estivesse com fome, não levantou-se. Alguma coisa lhe dizia que não tinha leite em casa. A chuva caía lá fora.