quinta-feira, outubro 30

na madrugada...

A guria acordou às 5: 30 da manhã. Chovia como se São Pedro estivesse lavando a casa. O barulho da água pingando no chão era um encantador de sono, no entanto, o dela insistia em não voltar. Levantou-se.

Os primeiros passos foram lentos e desequilibrados; o corpo cansado se fez tão pesado que ela mal pôde sustentar seu peso sobre suas próprias pernas. Parou. Segundos depois, conseguiu direcionar-se à cozinha; entrou. A cozinha estava escura – era muito cedo e o sol ainda não havia nascido e a lâmpada estava queimada – mas, felizmente, já não estava mais tão escuro que não se pudesse enxergar. A chuva caía mais intensamente agora.

Abriu a geladeira e pegou a caixinha de leite. Vazia. Assim estavam os armários, e a geladeira também; não fosse a caixinha. Era dia de “fazer o rancho”, como se diz aqui no sul. Acontece que o dia anterior havia a deixado exausta e encarar uma tarde no supermercado seria tudo que ela não estava disposta a fazer. Percebeu que seus olhos estavam se fechando sozinhos e que sua cabeça pendia para frente de tempos em tempos. “Sono...” pensou.

Deu meia volta e tomou o caminho do quarto. Do nada, um forte puxão a fez despencar; porém, não caiu no chão e sim num abismo que se abrira sob seus pés. Caía... caía... Parecia que nunca chegaria ao chão, o que a deixava feliz, de fato. A sensação do vento batendo no rosto e de seu corpo abandonado em queda livra fazia-lhe bem, mas não queria saber o que aconteceria quando o vento parasse de acarinhar sua face. Abriu os olhos e viu a superfície de um rio se aproximando, cada vez mais rápido... mais rápido, mais rápido... e de repente...

O contato com o colchão macio a fez dar um pulo na cama e agarrar seu travesseiro. Achou-se deitada na cama, com o coração acelerado. Eram 5 :30 da manhã e, embora estivesse com fome, não levantou-se. Alguma coisa lhe dizia que não tinha leite em casa. A chuva caía lá fora.


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