segunda-feira, março 2

Tão frio como nunca estivera.
Os olhos daquele homem pareciam abandonados no vazio, admirados com o grande nada que havia na frente deles. O corpo inerte, abandonado no banco do parque, tentava expressar o estado que sua vida ficara depois de tudo; depois de uma vida inteira de fracassos e decepções. A sombra de um sorriso surgiu em sua face enrugada; um sorriso tão vazio quanto seus olhos. "Rir para não chorar, rir para não chorar..."
O homem, velho e cansado, venceu a inércia e pôs-se a andar. O parque parecia tão grande... Estava deserto àquela hora, como ele estivera durante a vida toda. O pôr do sol anunciava uma noite quase tão bela quanto fora o dia. Mas ele não percebia. O dia não fora dos mais bonitos, dentro dele. A noite escureceria o céu e tornaria a rua um lugar agradável de se ficar. Dormiria sob o céu estrelado e banhado pela lua que de tão cheia ameaçava explodir.
O banco perto da ponte sobre o lago era o seu favorito. As estrelas refletiam no espelho d'água e iluminavam tudo ao redor. Ele sentia-se vivo lá. Acomodou-se; fez do casaco rasgado e sujo seu cobertor. Deitado, olhando para o céu, viu uma estrela cadente: fechou os olhos, fez seu pedido e nunca mais os abriu.

0 pessoa(s) disse(ram) que: