sábado, maio 21

The Queen

Cada movimento expressivo em seus menores detalhes; cada centímetro do seu corpo vibrando junto com a sinfonia da orquestra, milimetricamente sintonizados. A batida tomava conta do coração de vidro da bailarina: batia pelas paredes e ecoava pela corrente sanguínea porque música e dançarina eram parte de uma coisa só. Eram parte de um único organismo vívido, límpido, sincrônico. Cada movimento era produto da reação espontânea e orgânica da menina que se via plena nos braços da melodia.

A bailarina quebrada da caixinha de música consegue dançar. Mesmo que lhe falte uma perna.

Seguindo os saltos dos movimentos delicados das mãos, seguem-se os olhares perdidos da bailarina à plateia. Tanta luz lhe cega. Seus braços abraçam o vazio dos olhos e suas pernas a lançam para o alto. Para mais alto. Para além dos sonhos de cera derretidos. Todos os pedaços do seu corpo agitam-se pela emoção da liberdade. Pela música que a alimenta. Pelo coração que se preenche, finalmente.

A bailarina se entrega sem reservas. E dança. É livre.

Ela ergue seus olhos do vazio e fixa-os no horizonte. Ela inventa os passos e deixa a coreografia para quem a quiser. Liberta-se dos movimentos programados e vive a música com a intensidade que é justa. É frenética. A bailarina do coração de vidro transforma-se em fera; assustadoramente encantadora. O vidro se quebra com o coração que agora pulsa - sem ter conserto.


A bailarina sente a si mesma. Desprende-se da sua plateia e do seu plano. Ela vive.


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