terça-feira, novembro 2

Pro-fundo

Pensou que soubesse como sair. Quando era pequena costumava brincar lá em baixo por horas e horas; sabia escalar até a borda, sabia que quando a luz enfraquecia era sinal de que estava na hora de voltar e sabia que precisava olhar bastante em volta, para que ninguém a visse entrar naquele buraco e viesse buscá-la como se salvasse sua vida.

Pensou que ainda lembrava como descer até o fundo em segurança. Pensou que aquela corda ainda era capaz de suportar seu peso - mesmo que esse tivesse aumentado consideravelmente com o passar dos 10 anos que separavam aquele ontem do agora - e que o balde enferrujado sobrevivera à oxidação. Pensou que seria muito simples, como era antes.

Pensou que talvez existisse outra coisa lá, outra coisa que não havia quando ela fazia visitas frequentes. Quem sabe encontraria um pedaço de infância esquecida e voltaria à superfície mais completa. Mas as paredes do poço estavam cobertas de limo e a corda apodrecera. Não podia voltar e naquele momento desejou que alguém viesse salvá-la como se a buscasse de volta à vida. Desejou que o poço fosse mais raso, que a corda fosse ainda forte e que não tivesse pensado em descer. Quis que tivesse reparado na luz enfraquecendo.

O pior de tudo é que descera por vontade própria. No fundo não havia nada além do fundo do poço; a que grande e estúpida conclusão chegara.

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