segunda-feira, agosto 16

Sol e chuva

Amanheceu de novo, como sempre acontece todos os dias. O sol ainda não saiu de trás do morro, mas o céu está claro o suficiente pra que eu vislumbre os contornos do teu corpo adormecido na minha cama, por causa dessa claridade que passa através das finas cortinas. E o raio de sol que daqui a pouco vai bater em cheio no teu rosto eu evito: o dossel cor de vinho da cama garante a continuidade do teu sono. Mas eu tapo só o lado onde bate a luz, porque pelo outro eu fico te observando da poltrona. Eu invejo esses teus olhos que se fecham sem culpa e essa tua consciência que se cala num estalar de dedos... quisera eu que a minha silenciasse por uma só hora, mas há uma tempestade constante aqui por dentro. As trovoadas não cessam e os olhos permanecem alertas, prontos para acionar o alarme que coloca todo o meu organismo em defesa.

De longe eu assisto o teu sono querendo que este fosse meu, mas preciso me contentar com a tranquilidade da tua expressão num sonho leve. Enquanto o dossel te proteger durante a manhã, eu vou permanecer na poltrona. E amanhã vai amanhecer de novo, porque é assim que acontece todos os dias. Mesmo que chova aquela chuva que vira o meu dia em noite; o teu dia é sempre claro, e eu amanheço nele quando vejo os teus contornos nos meus braços.

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