sexta-feira, agosto 13

Redoma

Sabia que a qualquer momento ela entraria por aquela porta e largaria-se nos braços dele, sem forças e nem vontade para recomeçar a discussão. Sabia que ela não era de guardar rancor, e queria acreditar que aquilo tudo fora coisa pequena, sem importância pra ninguém, e fraca para estragar as coisas...

Mas do que mais tinha certeza era de que mentir pra si nunca o fez ir além em nada, e todas as mentiras que contara para ele mesmo corroeram as relações humanas que tivera. Por um momento pensou em abrir a janela e deixar que o vento derrubasse seu castelo de cartas, impedindo que mais um "conto num reino distante" começasse a desenrolar-se na sua cabeça. Mas era tarde, pois ele já começara com o "era uma vez" e agora sentava-se, paciente, de frente para a porta, com ambas as mãos repousando sobre as pernas e os pulmões sorvendo vagarosamente o oxigênio, com toda a calma que a espera para o retorno da princesa exige. Com toda a calma de quem tem a vida inteira para dedicar a esta espera. Com a calma de alguém que esteve sempre preso num desses castelos de papel.

Com o desespero de uma consciência adormecida frente ao imaginário surreal. Sabia que a qualquer momento ela desapareceria de vez do seu castelo, e confundiria-se com uma rainha de espadas; sem o "felizes para sempre".

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