sábado, abril 3

O filho da puta

Quanto valeu todo esse tempo que me prendeste a ti sem nunca confessar? Migalhas, centavos (nem isso). Me valeu uma eterna dúvida, sem saber se eu fora enganado ou se mentia pra mim mesmo... no final eu sabia que alguma coisa estava errada entre nós dois. E que agora são três.

O pequeno nasceu eu eu não tive coragem de segurá-lo no meu colo; ainda. Não parecia meu. Não parecia comigo. Parecia com o joelho daquele cara que jogava futebol todos os sábados de manhã com a galera do escritório, o que tu gostavas tanto , lembra? Aquele que tem os olhos claros que nem os da criança e que era sempre muito apressado; e desonesto. Sabia que ele teve um caso com a mulher do Toni? É, teve sim. Depois daquilo ele nunca mais jogou com a gente, mas sempre nos víamos nos corredores e nos jantares da empresa. Te lembra que tu adoravas a companhia dele? É, eu sei que tu gostavas, sim. Ria tanto com aquelas piadas sem graça que ele sempre contava que parecia uma menina descobrindo-se mulher. Eu vi o jeito que tu olhaste pra ele. Pensava que não? Eu vi sim.

O guri é forte, nasceu pesado. Mas é loiro e tem olhos claros. Os mesmos olhos claros que te olhavam naquela noite do jantar de aniversário da esposa do meu chefe, que te seguiam pelo salão, que te engoliam, por vezes na minha cara. Na minha frente. Aquele cretino nem disfarçava. E eu sei que tu sumiste por mais ou menos meia hora, e voltaste ao mesmo tempo que ele apareceu ajeitando a gravata. Aquele filho da puta. Eu não vi, mas eu sei. E tu nunca me disseste se era verdade ou mentira; nunca te deste o trabalho de argumentar contra. Tu merece o mesmo xingamento que ele; mas eu respeito a minha sogra.

E agora somos três. Se fôssemos quatro, teríamos um problema. Aquele desgraçado não quis nem ficar pra saber se o filho era dele mesmo; eu não vou fazer teste nenhum. Eu vou criá-lo, e vou ser o pai porque pai é quem cria. E tu, mulher infiel, vais me assistir ser o melhor pai do mundo e vais te arrepender a cada dia por ter caído na lábia daquele maldito.

O meu filho é forte e tem olhos claros. A minha mãe disse que achava que minha bisavó tinha olhos claros. Então ele é meu filho. Eu descubro alguém de cabelos dourados na família, que é pra não ter mais dúvida. E se de corpo não parecer comigo, a personalidade vai ser igualzinha; e eu vou ensiná-lo a perdoar, porque se não ele não vai aceitar a mãe que tem.

Eu não vi, mas eu sei. E tu nunca disseste que não.

1 pessoa(s) disse(ram) que:

Pam disse...

há! DE-MAIS!
grande idéia!

bjoo