quinta-feira, dezembro 3

Em família

No quarto, escuro por causa das cortinas fechadas, jazia o corpo inerte de sua mãe. Os lábios, outrora rosados e quentes que lhe beijavam a testa todos as noites, nunca mais se moveriam, e a voz suave que lhe sussurrava cantigas de ninar quando tinha medo de dormir sozinho jamais seria ouvida novamente. Fria, a mão dela ainda estava entre as suas; o menino órfão não desistira de tentar acordá-la.
Ela encontraria seu pai, provavelmente; mas será que ele a esperava ainda? Afinal, já fazia três anos que ele morrera... Era bom que sim, pensava; quando o pai havia morrido a mãe ficara desolada. Chorava todos os dias, no banheiro, pra que ele não a visse; mas ele ouvia. Era bom que o pai ainda a esperasse.
E será que a mana, que nascera três meses depois da morte do pai e não pode viver mais de um ano, estaria lá também? A mãe poderia, então, reconstruir a família. Ela, o pai, a mana... mas ele não estaria lá. Queria estar. Decidiu que iria.

Só precisou de um passo pra fora do quarto através da grande janela do 17º andar. O menino de 11 anos foi atrás de sua família.

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