Ele evitava o meu olhar. Eu sabia que aquele olhos não eram mais os meus. Estavam perdidos num mar furioso de sentimentos contraditórios; ao mesmo tempo que queriam conceder o perdão, evitavam qualquer tipo de fraqueza. Ponderavam, em um silêncio amargo. Ele evitava me olhar nos olhos como se eles fossem deflagrar o último e impiedoso golpe sobre sua certeza auto-protetora. Evitava meus traços para não perder o pulso.
Aquele não era o rosto dele; não era o meu rosto. A amargura passara a sair do silêncio para ficar estampada em suas feições, como se apenas aquela expressão dura e irreconhecível fosse suficiente para me fazer dar as costas e partir. Mas não era. O olhos frios e presunçosos continuaram a me observar, ansiando o momento que eu diria que era tudo uma brincadeira de mau gosto, os lábios sorriam um sorriso torto como se rissem de si mesmo; ou de mim. Não era uma brincadeira, ele sabia. Eu não merecia o perdão, e eu sabia.
Sentou na pedra lisa, tapou o rosto com as mãos por alguns segundos e quando as baixou eu podia reconhecê-lo. Os meus olhos, o meu sorriso, a minha expressão despreocupada de quem não tem planos... Era ele, e era meu de novo. Toquei seu rosto com a ponta dos dedos, sentindo uma pele fria e rígida, como se fosse porcelana. Ele baixou o rosto e alguns cacos se espatifaram no chão, colorindo o solo rochoso com pontos marfim da máscara que cobrira seu rosto por todo tempo que estivera ao meu lado.
Ele não era o único que fora enganado; e talvez não houvesse mais sentido pedir perdão.
[sugestão de tema: presente]
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Há 2 anos