terça-feira, maio 5

Dois dele

Ele era incomum. Não havia outra palavra que o pudesse descrever tão fielmente. Não diferente, nem estranho. Incomum. Às vezes isso assustava as pessoas e acabava fazendo com que ele desfrutasse da companhia de um grupo pequeno e seleto, um grupo de pessoas não necessariamente incomuns como ele, mas tolerantes.

Sabia que não era fácil de lidar com ele. Suas convicções, nem sempre adquiridas depois de ouvir os dois lados, eram praticamente inabaláveis; visto que ele nunca deixava alguém falar tempo suficiente que pudesse chegar perto de convencê-lo. Tinha o seu próprio jeito de ver as coisas e as via de um modo mais dramático que os outros. Nunca era pro seu bem e ninguém nunca tinha problemas como os dele.

Ser incomum não fazia dele uma pessoa com quem não se pudesse conviver, apesar de saber que não era tão simples. Afinal, todos somos diferentes e nossas diferenças sempre vão se estranhar em algum momento, mas ele não conseguia aceitar essas diferenças facilmente. Tudo era uma luta pesada, onde as armas se resumem a argumentos, gritos e ofensas... algo do tipo "o meu é maior que o seu", ou qualquer outra besteira que se enquadre, até que se vencesse pelo cansaço.

Certo dia, durante um período conturbado e repleto de incertezas, ele resolveu que o melhor era jogar tudo pro alto. Começar de novo, talvez... sem saber direito o que. Desistir do que estava quase concluído, desistir de coisas semeadas durante anos porque não se julgava bom naquilo. Ele balançava entre o desânimo, a vontade de mudar tudo e a responsabilidade de assumir uma vida adulta. Há tempos oscilando entre crescer e desistir.

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