Cheguei perto. Tão perto que pensei que poderia tocar o teu rosto, tuas mãos, teu corpo todo. Dormias feito criança pequena que brincou o dia inteiro e caiu no sono no sofá da sala, quando eu entrei. No quarto, repousava a nossa foto sobre a cômoda de cabeceira; e eu que pensei que tu já nem a tivesses mais.
Por pouco não te acordei. Embora a vontade fosse maior do que eu, resisti; eu que não devia nem estar ali e por um engano, por força do hábito, estava, arrependida das escolhas que fiz, olhando e lembrando o porquê de tudo. Mas dizem que é quando acaba que a gente pensa nas coisas boas; ou melhor, só lembra das coisas boas. As chaves pendiam na mão esquerda, balançando com o tremor dela.
Eu cheguei tão perto que podia até sentir o calor que vinha do teu corpo, e a sensação de conforto que vinha junto. Queria sair antes que a saudade me tomasse por inteira e me impedisse de pensar, como sempre acontecia, mas minhas pernas não mais me obedeciam.
Deixei as chaves do apartamento sobre a cômoda, ao lado da foto. Devagar, e intimamente contrariada, me virei para a porta e me pus a andar.
- Fica.
A porta do quarto se fechou, encerrando meu pecado e meu desejo, por dentro.
Tem
Há 2 anos
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