Pusera uma pedra sobre as coisas. Pesada, esta empurrou para baixo todas as emoções que estavam na superfície e, não demorou nada, elas morreram enterradas sob um manto rígido e frio.
Frio. Muito frio.
Já não bastasse a nevasca de dentro, precisava ainda encarar a tempestade de fora. Munida de mais pedras e mais pesos ela abriu a porta de um corpo ferido. Entrou. O corpo não a repeliu, e até assustou-se com tamanha precaução.
- Eu não vou lhe fazer mal – disse o corpo à carregadora de pedras.
- E eu já ouvi isso antes – respondeu ela, abraçada às pedras que pesavam mais que seus braços.
Preocupou-se em forrar o coração do corpo com as pedras que trouxera, e largou os pesos na consciência do mesmo. Pusera a neve pra dentro, deixara a tempestade de fora. A frieza, contanto, não deixara sua casa. A nova casa era como a velha, porém, outra.
Tão fria quanto a velha, mas mais forte, preparada. Era bom ter se certificado de que tinha pedras suficientes para a temporada.
- eu vou lhe fazer mal – disse a invasora ao corpo – porque é por isso que precisei de uma nova casa. É assim que eu vivo, de casa em corpo, de corpo em casa. Eu não tenho escolha.
- nesse caso – respondeu o corpo, resignado – ao menos tire o peso da minha consciência, e deixe que eu viva quando você estiver cansada.
Eram pedras de sonhos e pesos de culpa. Quem ela deixara para trás?