quarta-feira, fevereiro 23

Quem aprendeu a crescer

O menino vira a mãe com um homem que não era seu pai. Duvidara dos próprios olhos, desafiara sua capacidade de reconhecer pessoas em situações nebulosas, mas não podia negar que vira a mãe com um homem diferente de seu pai. Ele vira. E isso bastava para que o mundo caísse sobre sua cabeça.

Como contaria ao pai o que vira? Como diria à mãe que sabia que aquele homem não tinha o mesmo cabelo grisalho e farto de seu pai? Como saberia que seus olhos não estavam sendo enganados pela imaginação tirana, infantil, que dominava seus pensamentos? Como diria a qualquer um o que vira se não sabia direito se tinha visto de fato?

Como. Essa era a questão. Como uma criança fazia para ser sincera sem ser má? Sempre achei que crianças chegam a ser cruéis em sua sinceridade desmedida. Chegam a ser crianças demais.
Eu não sei o que o garotinho fez, mas sei que seus pais ainda estão juntos. E sei que ele ainda olha para todos os homens que se aproximam de sua mãe - inclusive os transeuntes - com olhos desconfiados e maldosos. Sei que ele envelheceu rápido demais.

Suspeito que ele tenha aprendido a guardar segredos. E a mentir também. Mas mentir para si mesmo.
O que sei é que ele cresceu rápido demais.

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