sexta-feira, abril 29

O todo do nada

Das botas à blusa, do shorts às unhas: dos olhos às vistas alheias. Por causa dos olhos à lápis - borrando o preto nos contornos que estavam gravados nas tuas pálpebras - fizeste besteira. O preto dos olhos contornados do desejo que tu alimentavas a deixaram assim. Inatingível. E parecia que fora assim desde sempre.

Nem te lembras o quanto perdeste do tanto que foi. E do tanto, todo ele perdido por culpa da personificação idealizada de um corpo inteiro. Que tinha um par de pernas de mentira. Uma dezena de unhas enfeitadas. Uma garota de nada.


Não sabes o quanto perdeste porque não se mede felicidade que ainda não existe.

sexta-feira, abril 22

And all the lies you said, who did you save?

As coisas poderiam dar certo agora. Tinha certeza que tudo seria melhor a partir do momento em que se deixasse levar pela parte de si que não sentia pena, que não se sentia mal por quem fazia questão de tornar um núcleo da sua vida um pedaço de merda. Desistira. A essência que carregava falara mais alto.


Não era Miss Simpatia, de qualquer forma.



sábado, abril 16

"Give Me The Strength"

E é desse jeito que eu me desmancho. Eu pensei que pudesse ser até fácil engolir tudo isso e seguir no meu caminho sozinha. No meu caminho, no meu mundo distante desse outro mundo de merda. Só que não é bem assim, e vocês sempre me disseram isso. Como e fui boba em não ouvi-los antes. Ah, céus, como fui ingênua.

Mas eu confesso: tenho sorte por tê-los comigo. Vocês movem o meu futuro para longe dos lugares mais escuros, e, verdade seja dita, eu não saberia nem mesmo andar sozinha no meio de tantas sombras. Mas vocês não são sombras; eu posso vê-los, e tocá-los, e segurar nas mãos que vocês me estendem. Eu posso enxergá-los até mesmo de olhos cerrados. E o mais importante é que eu posso sentir o coração de vocês próximo do meu, e eu sei que o sangue que corre por eles é o mesmo. Vocês me dão a força que eu, sozinha, nunca teria.

E é desse jeito que eu me refaço. Entendendo que pode ser sim mais fácil se eu segurar com toda a minha força a lembrança de vocês dentro de mim. Se eu puder vê-los mesmo longe dos meus olhos; se puder senti-los a meio passo de distância ainda que haja quilômetros entre nós. Vocês transformam o meu mundo em um lugar menos sofrível, e o meu coração num lugar menos gelado.

E é desse jeito que eu me refaço. Com as partes que vocês me dão e com as minhas partes que vocês salvam. Vocês me dão a força que eu jamais teria.

My friends, we've seen it all
Triumphs to drunken falls
And our bones are broken still
but our hearts are joined until
time slips its tired hand into our tired hands

We've years 'til that day
and so much more to say

You give the strength to me
a strength I never had


[Give Me The Strength - Snow Patrol]

------x------


Para pessoas que têm permissão e livre acesso ao meu mundo particular. Não existo sem vocês.

quarta-feira, abril 13

Tango

Uma perna,

depois a outra.

Mais um passo e para:

por dois tempos.

Um pé, o mesmo,

o outro e de novo.

Uma perna, depois a outra,

um passo e pronto. Um braço solto e um punho firme.


Segura, caramba.


Uma perna, depois a outra; agora um abraço e para.

S e g u r a

firme;

mais um passo

pro lado,

pro outro,

pro lado.

Uma perna, depois a outra.

A outra, a outra, a outra.


A outra, seu filho da puta.


Minhas pernas, depois [as da outra.]

meus braços, meus lábios e meus enganos.

Teus e da outra. [A outra, a outra e a outra]


Tango.

domingo, abril 10

Hard to explain

Tem vezes que a gente quer e é pra agora. Ou quer mas é só por uns dias - ou pra vida toda. Mas de repente a gente não quer mais. Só.
Não quer porque passou a vontade. Assim.

Mas eu preciso te dizer que tem vezes que a gente mente. E mente só por mentir.
Brinca de falar verdade brincando, de falar mentira a sério. Mente de ser o amor que não sente e de ter vontade do que quer. Tem vezes que a gente mente porque é mais fácil. Assim. Mais sincero mesmo. Mente porque tem vezes que a gente quer pra sempre, mas diz que quer pra depois - e que o depois já passou.

Então eu te digo que talvez eu não queira mais, e que, quem sabe, eu possa mentir. Porque tem vezes que a gente só decide: escolhas das vezes que a gente resolve que é a nossa vez de jogar.

E essa é a minha vez.


[Hard to Explain - The Strokes]

sexta-feira, abril 8

Everybody's looking for something

Alguns deles não estão nem aí, mas outros fazem questão de enxergar teus detalhes e expô-los, apontá-los. Alguns deles passam e nem mesmo te olham, mas a maioria deles não consegue parar de desejar a tua presença em qualquer lugar. Dizem que eles nem sabem direito o que querem.

Mas eu sei exatamente o que eles querem.

E eles transpiram seus desejos, sem pudor. Alguns vão continuar passando sem notar, mas os outros não conseguirão largar o vício. Esse vício que te procura porque te pertence; esse vício de alguns deles. De todos eles.

Esse vício de ti.

Some of them want to use you...
Some of them want to get used by you...
Some of them want to abuse you...
Some of them want to be abused...

quinta-feira, abril 7

Happy Belated Birthday


Eu perdi. Quando eu cheguei todas as luzes já haviam sido apagadas e o bolo ficara meio comido sobre a mesa. Havia balões, uma toalha vermelha e copos descartáveis coloridos, uma faixa atrás da mesa e alguns cartões sobre ela. Mas eu perdi. Eu cheguei atrasada e perdi...

Eu perdi o teu aniversário. Parabéns pra mim, cada vez mais inacreditavelmente esquecida das coisas que deveriam importar.
Foi mal, meu Inacreditável Mundo. Ano que vem eu prometo que não vai ser assim. Ah, vai, pelo menos tu tens que acreditar em mim.


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Dia 23 de março foi aniversário de 3 anos d'O Inacreditável Mundo, e eu acabei deixando passar. Tudo bem que março não foi um bom mês, mas isso não justifica... Então, atrasada eu ainda assim registro:




Obrigada a vocês que passam ou que já passaram por aqui. Vocês me fazem acreditar que a palavra sufocada vale tão pouco quanto o choro engolido; por isso eu falo, eu escrevo, eu choro e não me importo. Eu sei que vocês entendem perfeitamente o que eu estou falando.



Parabéns pra nós!

domingo, abril 3

Chroma

É maneira como as coisas aconteciam, o jeito como as coisas terminavam. Sempre torto, longe do que fora planejado. Será que os planos que fizera poderiam, um dia, sair daquela folha pálida e imaterial na qual a tinta da sua caneta imaginária rabiscava as irrealidades que traçava para o futuro? Um dia, quem sabe, poderia rasgar aquelas folhas e deixar a caneta guardada, porque não precisaria mais pintar universos paralelos simplesmente por conseguir se sentir feliz no qual vivia. No universo cinza e acolhedor que um dia encontraria.

Cores não precisam estar em todos os lugares. Cansa os olhos; cansa tanto que de repente nem mais os tons pastel e nude são percebidos, aí sobra uma cor de sujo, de errado. Uma cor de tristeza. No universo cinza as cores são boas, porque quando usa-se cores são cores que significam coisas. E essas coisas acontecem da maneira certa e terminam com um grand finale. Com um torto que desvia da obviedade mas nunca da felicidade. Um torto cinza e colorido que não precisa de uma folha pálida. Um desvio de significação, sem planos.




Precisa-se de cores.

sábado, abril 2

Do propósito

A gente sempre sabe quando alguma coisa é tirada do lugar nos nossos cantos preferidos. A gente sempre sente quando alguma coisa é removida, porque aquela coisa tinha um propósito de existir e de estar ali, exatamente naquele lugar. Eu sei que você pensou que eu não iria reparar - a gente sempre tem a ilusão de achar que sabe qual é o melhor modo de organizar as coisas dos outros - só que dessa vez, não tinha como eu deixar de perceber.

Eu senti a falta, e não tive o que colocar no lugar.
Eu não pude substituir. E eu sei que você fez de propósito.

A prateleira dele ainda está vazia. Entra em contato caso você decida devolver o coração que roubou.



PS: Você podia ter levado algumas fotos, em vez disso.